segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Talentos ao relento

No ultimo final de semana, representantes da UNEGRO/PR estiveram no Assentamento P. A. Retiro, no município de Tibagi. O objetivo era fazer um laudo técnico da Fundação Palmares para o possivel reconhecimento da comunidade negra lá existente como uma Comunidade Quilombola.

Por Juliane de Oliveira

A manhã de sábado (18) foi surpreendente para a equipe já acostumada com a rotina. Logo na chegada da técnica e do fotógrafo responsáveis pelo Laudo, conheceram uma amante do cinema.

A jovem negra de 22 anos chamada Aline Fernanda não apenas curte assistir ou ler sobre o cinema, mas, sobretudo produzir cinema. Sua paixão começou quando foi campeã de um concurso de redação do município de Tibagi. Aline relata que sempre gostou muito de escrever, mas foi a partir daquela conquista que sentiu-se realmente motivada. “O premio foi um curso de cinema que durou quatro meses. Cheguei a gravar um curta [metragem]. Me apaixonei e agora vivo escrevendo alguma coisa”, declara.

Seria muito legal contar essa história se ela não tivesse o “outro lado”. Apesar do talento e da premiação, Aline Fernanda continua no anonimato. As oportunidades não chegam até o Assentamento onde mora, e ela não tem incentivos para seguir em frente na busca da realização do seu sonho: trabalhar profissionalmente com o cinema.

Ela relata que já produziu algumas peças de teatro, e que sempre está escrevendo alguma coisa. “Não tenho um direcionamento, escrevo sobre o que me dá na telha, sobre aquilo que me incomoda, mas também posso escrever sobre o que você quiser. É só pedir”. O grande problema é que estes trabalhos tornam-se calço de computador, ou arquivo empoeirado.

Depois de mostrar os rascunhos daquilo que escreve cotidianamente, a jovem de voz firme e mãos calejadas pelo trabalho na roça conta, ainda, que também já foi selecionada em concursos de beleza e apenas não engrenou na carreira artística por falta de recursos financeiros. “Fazer books, viajar... É tudo muito caro. A gente daqui não tem como pagar!”, argumenta.

Em Tibagi, 60% da população é negra. Culturalmente, além de possuir o melhor carnaval, é uma das cidades na qual o teatro e melhor desenvolvido. No entanto, a jovem Aline encontra muitas barreiras para crescer profissionalmente. Ela e outros moradores expõem que, apesar da maioria negra, a cidade ainda é bastante elitista. “Alguns tem mais oportunidades que outros, e a gente sempre está fora dos ‘alguns’. A gente não tem dinheiro. Para sair daqui, continuar estudando, precisava ter ajuda”.

A escola mais próxima da comunidade onde vive esta jovem fica a aproximadamente 20 km de distancia. Foi lá que Aline concluiu o ensino médio. Ela pensa em continuar estudando e sonha com a faculdade, mas teria que sair de casa e ir para a cidade para estudar. Isso demandaria custos que a moça não tem como pagar.

Segundo Márcia Regina, irmã da jovem, a comunidade de oito famílias sempre é lembrada por políticos “bem intencionados”, principalmente em época de eleições. “Eles lembram da gente de tempo em tempo e promessa de político não é garantia nenhuma pra nós que já ouvimos tantas e continuamos na mesma situação”, desabafa.

Se este fosse o único caso de talento esquecido pela sociedade e pelo poder público, a solução seria bem menos complicada. Mas o fato é que Aline Fernanda é apenas um dos milhões de outros jovens negros deixados nos cantos deste imenso país para depois. Aquele depois quando a igualdade de tratamento e oportunidade serão os mesmos para o segmento que será chamado Juventude Brasileira, sem divisionismos, sem discriminação. Mas enquanto o depois não chega, Aline e outros milhões vão rascunhando a peça que dramatiza a vida dos jovens negros deste país.

- Texto disponível também no blog unegrojovem.wordpress.com - acesse e confira!

Nem tudo está Perdido - Solano Trindade

            
Nem tudo está perdido irmãos
nem tudo está perdido amadas
o sol voltará a nos trazer calor
Esta é a mensagem nova
que o poeta nos traz
 para que desperteis para a luta
 na hora da vossa angústia
 irmãos e amadas do meu século!
Se os poderosos cada vez mais escravizam, os oprimidos
 lutam por liberdade
          
                       É a maior esperança
                               de libertação...
              Nem tudo está perdido amigos
          nem tudo está perdido camaradas
                                Há medíocres
                                       imbecis
                             preconceituosos
          mas é grande o número dos puros
                                  dos simples
                     dos que crêem no amor
         A água não secou em todos os rios
        nem todas as mulheres são estéreis
             se alguns ainda querem guerra
             é grande a esperança de paz...
              Nem tudo está perdido irmãos
             nem tudo está perdido amadas.
 (“Nem tudo está perdido”, Solano Trindade)

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Governo SP é condenado por Racismo em Sala de Aula


*Mais um passo na luta por uma educação anti-racista:
Governo do Estado de S. Paulo é condenado por Racismo em Sala de Aula
Alexsandro Santos
   Há pelo menos quarenta anos, uma série de pesquisadores e estudiosos das práticas educativas e dos processos de formação e conformação das subjetividades e identidades denunciam os efeitos das práticas escolares que, ao reproduzir as desigualdades raciais que marcam a sociedade brasileira, reforçam e legitimam o racismo e provocam prejuízos tanto às crianças negras quanto às crianças não-negras.
            Se o campo acadêmico, de certa forma, acumula uma vasta produção no campo dessas denúncias, o campo da responsabilização do Estado por permitir desvios de conduta e também por não combater o racismo institucional ainda é para mulheres e homens corajosos e desbravadores de uma estrutura jurídica pouco atenta a essas questões e que lutam para que essa responsabilização do Estado aconteça de maneira efetiva.
            Nesse sentido é histórica a condenação que a 5ª Vara da Fazenda Pública impôs ao Governo do Estado de São Paulo. Em sentença do dia 10 deste mês (só tornada pública agora), o Governo do Estado foi condenado a pagar 20.400,00 por danos morais à família de um estudante da Escola Estadual Francisco de Assis, no Ipiranga.

Entenda o Caso
         Em 2002, a professora Maria Erci (hoje aposentada), que atuava no  1º ano da escola realizou uma atividade baseada no texto “Uma família colorida”. O texto havia sido escrito por uma ex-aluna da mesma escola, chamada Bianca Cristina Castilho. Na redação, cada personagem da família era representado por uma cor. Um homem negro, na história era descrito como um homem mal, que tentava roubar as crianças da família.
            Essa situação específica, embora localizada, revela o completo descaso do Governo Estadual na adoção das medidas de supervisão e aplicação das leis 10.639/03 e 11.645/08.
            Um dos garotos da turma, negro, passou a apresentar comportamentos de negação da escola, problemas de relacionamento e queda no rendimento escolar. Pareceres de especialistas juntados ao processo constataram o desenvolvimento de um quadro de fobia em relação ao ambiente escolar originado pelo sofrimento psíquico da criança no desenvolvimento da seqüência didática.

Uma advogada comprometida: Maria da Penha Santos Lopes Guimarães
         O caso do estudante esteve sob a responsabilidade da advogada Maria da Penha Guimarães.
            Maria da Penha Guimarães também teve outra brilhante atuação no caso da doméstica Simone Diniz. Simone Diniz encontrou no Jornal “A Folha de São Paulo” o seguinte anúncio:

Doméstica. Lar. P/morar no empr. C/exp. Toda rotina, cuidar de crianças, c/docum. e ref. Pref. Branca, sem filhos, solteira, maior de 21a. Gisele. 
           
 Ao ligar para o local indicado no anúncio, Simone confirmou que o fato de ser negra impedia que ela preenchesse a vaga. Simone procurou a Subcomissão do negro da OAB-SP e a Delegacia de Crimes Raciais para apresentar notícia-crime e o Inquérito Policial foi instaurado. O delegado encaminhou relatório do caso ao Juiz de direito competente que, por sua vez, deu ciência o Ministério Público. O ministério público declarou, em seu parecer que:

(...) Não se logrou apurar nos autos que Aparecida Gisele tenha praticado qualquer ato que pudesse constituir crime de racismo, previsto na Lei 7.716/89 [e que não havia] nos autos, qualquer base para o oferecimento da denúncia

            O juiz de direito prolatou a sentença de arquivamento do caso.
            A conduta do Estado Brasileiro foi considerada omissa e ferindo os tratados internacionais de defesa e proteção dos direitos humanos no âmbito do Sistema Interamericano, do qual faz parte.
           
        

"Amor palavra que liberta
Já dizia o Profeta"
(Marisa Monte)
Adriana
*Enviado por Lauro Cornélio