quinta-feira, 28 de junho de 2012

Professora Débora Cristina de Araújo e o Sonho Possível


Daniel Castellano/ Gazeta do Povo
Daniel Castellano/ Gazeta do Povo  / A professora Débora com os alunos que foram conhecer a UFPR: sonho do ensino superior público é atingívelA professora Débora com os alunos que foram conhecer a UFPR: sonho do ensino superior público é atingível




fonte: gazeta do povo

A participação de estudantes de escolas municipais e estaduais nos vestibulares de universidades públicas ainda é pequena, mesmo com as cotas sociais. Movimento quer mudar esse quadro

Depois de perceber que os estudantes sabiam muito pouco a respeito das cotas raciais e sociais e também não tinham informações sobre as formas de acesso ao ensino superior, a professora de Língua Portuguesa Débora Cristina de Araújo, doutoranda em Educação pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), decidiu neste mês levar suas seis turmas de ensino médio de uma escola pública à UFPR. No próximo semestre, a visita será na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR). O objetivo é estimular os alunos a enxergarem a educação superior como um sonho possível.

A dificuldade de entrar em uma universidade concorrida como a UFPR muitas vezes assusta. Atualmente, cerca de 2% dos alunos que deixam o ensino médio na rede estadual do Paraná entram logo em seguida na Federal. Neste ano, 101.727 estudantes estão matriculados no terceiro ano do ensino médio dos colégios estaduais. No último processo seletivo da UFPR, no fim do ano passado, 16 mil candidatos estavam saindo do terceiro ano em escolas públicas. Desses, 2.147 (13,41%) foram aprovados, mais da metade deles em função das cotas sociais.

Soluções

Especialistas defendem ações que unem escola e universidade

A socióloga e ex-secretária do Ensino Superior e de Política Educacional do Ministério da Educação (MEC) Eunice Ribeiro Durham defende que universidades públicas mobilizem seus professores e alunos de licenciaturas para oferecer cursos que preparem alunos de baixa renda para o vestibular. “Temos de igualar as condições [de acesso]. Sou a favor de que as universidades públicas elaborem programas de cursos presenciais e a distância para preparar para o vestibular”, afirma.

Já o coordenador do Núcleo de Concursos da UFPR, Raul Von der Heyde, afirma que não é papel da universidade oferecer treinamentos específicos para os alunos do ensino médio. Ele aponta outro caminho. “Os cursos de licenciatura podem ajudar na preparação dos professores, com cursos de capacitação na rede pública. Assim como nossos alunos podem fazer estágios em escolas públicas. Se melhorarmos a qualidade do professor, melhoraremos as condições do aluno”, diz.

Esse intercâmbio entre escolas e universidades públicas é defendido também pela diretora de Políticas e Programas Educacionais da Secretaria de Estado da Educação (Seed), Fernanda Scaciota. “O graduando bolsista da universidade vai se preparando para o exercício da profissão na escola, aproximação importante para articular a teoria e a prática”, afirma. (AC)

Débora conta que teve a ideia das visitas após oito anos de trabalho na rede pública. “Reconheço nos meus estudantes grandes potenciais e talentos, mas que muitas vezes acabam optando por seguir suas vidas profissionais fazendo cursos técnicos, por imaginar que a universidade é um sonho muito distante de suas realidades”, afirma. Os mais de 200 alunos, que são do Colégio Estadual Genésio Moreschi, do município de Colombo, conheceram o câmpus Reitoria e o prédio histórico da Federal, na Praça Santos Andrade. Também tiveram palestras sobre cotas, moradias estudantis, bolsas e outros benefícios concedidos pela universidade.

Baixa procura

No último processo seletivo da UFPR, que oferece cotas desde 2004, sobraram vagas que estavam reservadas para negros e pardos – isso ocorre frequentemente na instituição. O mesmo aconteceu com as vagas destinadas a quem cursou a educação básica em escolas públicas. Das oportunidades reservadas aos dois sistemas de cotas, 8% não foram preenchidas e acabaram sendo encaminhadas para a concorrência geral. Atualmente, 1.017 vagas, ou 20% do total, são destinadas a cada um dos dois tipos de cotas. Os candidatos da concorrência geral ficam com os 60% restantes e com as vagas que voltam das cotas por não serem aproveitadas.

“Depois das cotas aumentou a participação de quem veio de escola pública em cursos concorridos como Medicina e Arquitetura. Mas temos de considerar que, dentre as escolas públicas, há padrões diferentes, assim como há diferenças entre o Colégio Estadual do Paraná e um colégio da região metropolitana”, afirma o coordenador do Núcleo de Concursos da UFPR, Raul Von der Heyde.

“Como sobram vagas, prova-se que, mesmo adotando as vagas preferenciais, os indivíduos têm uma base tão fraca que não passam na primeira fase do processo”, avalia o professor de pré-vestibular Marlus Geronasso, idealizador do programa de tevê Eureka, criado para preparar os alunos de escolas públicas para os vestibulares.

Cursinho no contraturno nem sempre ajuda

Grande parte dos alunos que estudam em escolas públicas acaba procurando um reforço em cursinhos pré-vestibulares. Segundo o mestre em Educação Marlos Geronasso, que pesquisou o acesso de mais de 15 mil estudantes a universidades, lidar com esses dois expedientes pode ser um problema. “O volume de informações é muito grande e alguns não conseguem acompanhar. Sentem a deficiência da escola onde estudaram, que não deu subsídios, e têm dificuldades com o conteúdo, sobretudo na área de Exatas. As salas dos cursinhos começam cheias, mas vão arrefecendo ao longo do ano, pois eles desistem”, explica.

O reforço pode acontecer dentro da própria escola pública. Neste ano, 1,2 mil alunos do Colégio Estadual do Paraná e de escolas de cinco municípios do estado ganharam um curso preparatório para o vestibular gratuito, ofertado no contraturno ou aos sábados. “Lançamos essa proposta do pré-vestibular para as escolas que têm essa possibilidade de oferecer, de acordo com as condições físicas, quantitativo de professores e demanda. A ideia é expandir para mais escolas. Acreditamos que, na medida em que as pessoas forem conhecendo e vendo os resultados, vão se interessar”, afirma a superintendente da Educação da Seed, Meroujy Giacomassi Cavet.

Caso Orlando: Veja diz que não tem que dar satisfação à verdade


Já se passaram três semanas desde a absolvição de Orlando Silva pela Comissão de Ética da Presidência da República. Até o fechamento desta matéria, a revista Veja, base do processo contra o ministro, não deu uma linha sobre fato. A reportagem da TV Vermelho procurou o editor da Veja Brasília, Rodrigo Rangel, para saber o porquê do silêncio. Resposta: a Veja não tem que dar satisfação à verdade.



Em 12 de junho, a Comissão de Ética, por absoluta falta de provas, arquivou o processo contra o ex-ministro. O caso foi baseado em matérias da revista Veja com o policial militar João Dias, que acusou Orlando de ter recebido dinheiro ilegal de ONGs.

A matéria intitulada “Ministro recebia dinheiro na garagem”, da edição de 13 de outubro de 2011, foi assinada por Rodrigo Rangel, também editor da Veja Brasília. Rodrigo e Policarpo Junior, editor chefe do semanário em Brasília e um dos personagens envolvidos nos esquemas do bicheiro Carlinhos Cachoeira, se empolgaram na fabricação do texto. Ambos deram seis páginas para o suspeito PM João Dias e apenas oito linhas para a defesa de Orlando, por sinal, nenhuma apas do ministro.
Em entrevista à TV Vermelho, o ex-ministro afirma que, na época, foi apenas comunicado, por um editor daVeja, de que uma matéria sobre ele seria publicada no dia seguinte. Orlando afirma que a única chance de defesa que a revista ofereceu foi publicar uma nota do ministério na Veja Online. A edição impressa já estava a caminho das bancas.

Satisfação
Em agosto do ano passado, o mesmo Rodrigo Rangel chegou a ser agredido pelo lobista Júlio Fróes enquanto tentava cumprir uma das obrigações do bom jornalismo: ouvir o outro lado da história (aqui a notícia). Por que no caso de Orlando não foi possível ter o mesmo empenho?

Para saber esta e outras respostas é que a TV Vermelho procurou o editor da Veja. Basta ver o vídeo acima para saber a versão do outro lado: “Sim, mas eu tenho que dar satisfação a você?”, ironizou Rodrigo Rangel.

Tentamos explicar que não era à repórter que o jornalista devia uma satisfação, mas sim aos milhões de brasileiros que foram enganados ao longo de oito meses, graças às mentiras veiculadas na Veja. Mas e a verdade, ela não merece nenhuma satisfação? “Agora não posso falar, agora não posso falar”, repetia o editor da revista à nossa reportagem.

Proceso na Justiça

O única tentativa do editor para justificar o absoluto silêncio da Veja sobre a absolvição de Orlando foi de que o processo continua correndo na justiça.

Então noticie, pelo menos, há quantas anda o processo na Justiça! Sim, porque até o presente momento há apenas um processo e este foi movido pelo próprio Orlando Silva contra os caluniadores João Dias e Célio Soares, funcionário do PM que disse à Veja ter entregue dinheiro ao ex-ministro.

Já houve uma primeira audiência. Célio Soares não compareceu e está desaparecido. Por este motivo, a Justiça não consegue intimá-lo para depor. O único a comparecer foi João Dias. Ele propôs a conciliação ao ex-ministro, que não aceitou.

Além do processo movido por Orlando contra os caluniadores, há um inquérito, a pedido da Procuradoria Geral da União, em andamento no STJ (Superior Tribunal de Justiça). Inquérito não é processo, mas sim, investigação. Até o momento, o ex-ministro não foi chamado para depor.

Impunidade

A grande ironia de toda esta história está nas duas frases que fecharam a primeira matéria, aquela de oito meses atrás: “A polícia e o Ministério Público têm uma excelente oportunidade para esclarecer o que se passava no terceiro tempo do Ministério do Esporte. As testemunas [João Dias e Célio Soares] estão prontas para entrar em campo”.

Que piada. Mesmo dias depois da reportagem, João Dias se negou a comparecer ao Congresso para falar sobre o caso (aqui a matéria).

Já se passaram oito meses. Orlando segue a batalha de cabeça erguida. E a Veja? Só mesmo um milagre tem evitado que o dono da revista, Roberto Civita, não seja chamado a depor na CPI do Cachoeira.

Até quando a mídia vai ficar impune?

Por Carla Santos
pubicado:www.vermelho.org.br

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Em busca da classe C, Fátima Bernardes tropeça na estreia de seu 'Encontro'


Por Pedro Willmersdorf 

Tradicionalmente uma bandeira levantada pela emissora, o 'padrão Globo de qualidade' tem sido posto em xeque de forma abrupta nos últimos anos, com a voz cada vez mais presente e relevante da chamada 'nova classe média', em miúdos, a grande fatia da classe C que vem melhorando seu poder aquisitivo e sua qualidade de vida.

Com esta mudança de painel social-econômico, a Globo vem se enxergando em um processo complexo e necessário: a saída de um pedestal antes elitista e blasé rumo a um nível mais palpável, do universo de emissor legitimado ao papo-reto, à conversa na base do 'gente como a gente'.

Pois, quando o assunto é a ficção, a emissora vem se saindo bem, sendo como maiores exemplos as tramas de 'Cheias de Charme' e 'Avenida Brasil', sucessos de crítica e público, com suas trilhas sonoras radicalmente populares e seus diálogos rasgado entre dramaturgia e telespectador. Sem concessões, falando a língua da dona-de-casa e da empresária. Mas, quando saímos do faz-de-conta e chegamos ao factual, surgem ruídos na conversa.
Engessado pelo roteiro enxuto, típico do entretenimento da Globo, 'Encontro' não empolgou em sua estreia
Como, por exemplo, ocorreu no primeiro 'Encontro' entre Fátima Bernardes e seu público, na manhã de hoje (25). Confusa, a estreia da atração contou com uma tripla frente de pautas que não permitiram sequer tentarmos adivinhar qual será a 'cara' do programa. 'Adoção', para emocionar, 'a primeira e inesquecível viagem de avião', para dialogar com a nova classe média, e...depilação, para descontrair. Com direito a um deslocado Marcos Losekann, correspondente direto de Londres, visivelmente sem função durante o programa.

O roteiro, engessado (como de praxe em programas de entretenimento da Globo), vai diretamente contra a presença de qualquer faísca de humor. Mas Marcos Veras e Victor Sarro estavam lá, sendo inseridos a cada pauta de forma constrangedora e planejada. Faltando, do início ao fim do programa, o que mais seria essencial para 'Encontro' conquistar de primeira seu telespectador: espontaneidade.

Nem mesmo a plateia de cerca de 60 pessoas, inseridas em um cenário de gosto duvidoso, esboçou qualquer espasmo de voluntariedade, participando muito pouco de um programa que, a princípio, promete proporcionar justamente um 'encontro'.

Para não dizer que a estreia do novo projeto de Fátima Bernardes foi de uma sonolência completa, é sempre importante ressaltar o carisma e o bom desempenho da experiente jornalista no vídeo. Mas, infelizmente, será preciso mais do que a força de Fátima para que os próximos 'encontros' não se tornem sessões arrastadas (e impessoais) de terapia em grupo, como se mostrou o début da atração.

publicado: Jornal do Brasil

NOTA DE REPÚDIO AO GOLPE NO PARAGUAI


NOTA DE REPÚDIO AO GOLPE NO PARAGUAI

A UNEGRO, SEÇÃO PARANÁ, CONDENA VEEMENTE O GOLPE DE ESTADO EXECUTADO NO PARAGUAI E CONCLAMA PARA QUE, O MOVIMENTO SOCIAL NEGRO, UNA FORÇAS E VOZES EM FAVOR DO POVO PARAGUAIO.

A UNEGRO NÃO ACEITA E REPUDIA OS ATAQUES DAQUELES QUE EM DETRIMENTO DE UMA POLÍTICA DE MANDO E CABRESTO FAZEM VALER SEUS PÍFIOS INTERESSES, SUBJULGANDO SOBREMANEIRA A JUSTIÇA E SOBERANIA DO PAÍS.

POR UM PARAGUAI LIVRE E DEMOCRÁTICO.
CURITIBA, 25 DE JUNHO, 2012


UNEGRO/PARANÁ

Quilombolas lançam frente nacional para denunciar violência contra comunidades

terça-feira, 19 de junho de 2012

UNEGRO cobra de Dilma desculpas a Orlando

A presidente Dilma Rousseff deveria chamar o ex-ministro do Esporte, Orlando Silva,  de volta ao governo ou, no mínimo,  emitir uma nota oficial da Presidência da República pedindo desculpas ao ex-auxiliar. A sugestão é da coordenadora geral da União dos Negros pela Igualdade (Unegro), do Distrito Federal, Santa Alves.

No último dia 12 o Conselho de Ética da Presidência da República considerou Orlando inocente das acusações de corrupção no Ministério do Esporte, feitas pelo policial João Dias. Dias não apresentou nenhuma provade suas acusações e sua falsa denúncia foi publicada pela revista Veja.

Apesar de todas as evidências de inocência de Orlando Silva, a matériadesencadeou uma série de outras reportagens com base em informações falsas que acabaram por fazer o governo Dilma se render e substituir oministro.“Nós confiamos no senso de justiça da presidenta e acreditamos que ela tomará alguma atitude para reparar o erro ao qual seu governo foiinduzido”, disse Santa Alves. “Infelizmente a campanha da grande mídia tinha como alvo desestabilizar o governo, como se comprou nasinvestigações da Operação Monte Carlos, que revelaram o conluio da Veja com o crime organizado para atacar o governo”, acrescentou.

Santa Alves não defende a volta de Orlando ao Ministério do Esporte,que, segundo ela, vem sendo muito bem conduzido pelo deputado Aldo Rebelo. “O que sugerimos é que a presidenta chame o Orlando paraocupar um cargo no governo até como um reconhecimento concreto de sua inocência”, afirmou.

Ela vai mais além e sugere à presidente Dilma que faça em relação aosnegros e outras etnias o mesmo que vem fazendo em relação às mulheres em seu governo. “A presidenta assegurou uma representatividade femininaimportante em seu ministério. Seguindo esta mesma linha de contemplar os setores marginalizados da sociedade, ela poderia também estabelecer comometa ter mais negros e ainda indígenas entre seus principais auxiliares”, pontuou.

“Assim como as mulheres, negros e índios têm o direito de mostrar sua capacidade no alto escalão do governo federal, assim como o ministro Joaquim Barbosa vem demonstrando no Supremo”, acrescentou.

A dirigente da Unegro-DF lembrou que Orlando Silva era um dos doisúnicos negros da equipe ministerial de Dilma. “Agora o governo só tem uma ministra negra, a Luiza Bairros, da SEPPIR (Secretaria de Promoçãode Políticas de Igualdade Racial)”, lembra Santa Alves.
fonte:  www.unegro.org.br

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Vídeo mostra a vitória de Orlando Silva sobre o PIG

Oito meses depois dos ataques sem fundamento contra Orlando Silva, enfim, a verdade veio à tona. Inocentado no processo aberto pela Comissão de Ética da Presidência da República, segue sua luta por justiça. Confira vídeo produzido pela União da Juventude Socialista (UJS), que reúne momentos desse combate e mostra a força do militante comunista.

"Não há, não houve e não haverá quaisquer provas que me incriminem. Diferentemente do que foi publicado numa revista semanal brasileira porque fato nenhum houve que possa comprometer a minha honra”, declarou Orlando, que deixou o ministério do Esporte aplaudido de pé por uma plateia formada por pessoas do mundo da política e do esporte.


publicado: www.vermelho.org.br

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Orlando Silva é absolvido na Comissão de Ética da Presidência




A Comissão de Ética da Presidência da República absolveu nesta segunda-feira (11) o ex-ministro do Esporte, Orlando Silva, da denúncia sobre supostas irregularidades no Programa Segundo Tempo. O processo foi aberto em 17 de outubro, baseado em notícias publicadas na revista Veja. Em entrevista dada após a reunião que tomou a decisão, o presidente Sepúlveda Pertence informou que “a Comissão arquivou a denúncia contra Silva por absoluta falta de provas”.

o: “Primeira vitória na defesa da verdade”

Orlando Silva, em entrevista ao Vermelho, disse que essa foi a “primeira vitória na cruzada em defesa da justiça e da verdade”. O ex-ministro conta que sabe como é longo o caminho da justiça brasileira e que está percorrendo todos os passos para provar a verdade contra as calúnias que foram divulgadas. Ele lembrou que a denúncia analisada na Comissão de Ética foi iniciada em um processo “a partir de mentiras publicadas na revista Veja”.

“É importante essa decisão da Comissão de Ética, pois depois de longo processo de análise, conclui-se que não existe absolutamente nenhuma prova contra mim”, analisa Orlando, que comentou estar tomando todas as medidas para que a verdade seja restabelecida. “Continuo, por exemplo, com os processos que movo contra os delinquentes que me caluniaram”.

Orlando agradeceu o carinho e a solidariedade de tantos amigos e companheiros que se manifestaram no Facebbok e no Twitter. Comentou também como é injusta a cobertura da imprensa, pois quando foi aberto o processo na Comissão foi feito muito alarde com manchetes garrafais. Já a sua absolvição sai publicada apenas em poucas linhas de um ou outro jornal.

As voltas que o mundo dá

Oito meses separam a data em que foi aberto o processo na Comissão de Ética até o dia da absolvição de Orlando Silva. Neste período, a verdade vem cada vez mais à tona. E não se trata apenas da decisão tomada pela Comissão nesta segunda-feira.

A revista Veja, que foi a ponta de lança das calúnias contra Orlando e o PCdoB, passou de acusadora a ré. As gravações obtidas pela Polícia Federal provaram que a revista faz parte da máfia comandada pelo bandido Carlinhos Cachoeira, que se encontra preso. O editor da Veja, Policarpo Júnior, agia como funcionário de Cachoeira, que era o verdadeiro editor da revista. Suspeita-se inclusive, que o bandido pode ter plantado nas suas páginas também as mentiras contra Orlando.

Outro que trocou de cadeira no tribunal foi o senador Demóstenes Torres (ex-DEM-GO). Ele era a voz que mais gritava mentiras no plenário do Senado e nos microfones do PIG na crise deflagrada no Ministério do Esporte. Hoje, é um morto vivo que mal aparece no Senado, ou dá as caras apenas em dias de depoimentos em processos que terminarão com a cassação do seu mandato. Também ele é membro da quadrilha do bandido Cachoeira. Só não sai preso do Senado, porque estamos no Brasil.

E quem se lembra do policial bandido João Dias, que serviu como caluniador contra o PCdoB. Poucos meses depois, protagonizou uma série de atos criminosos, sendo preso por mais de uma vez. Uma de tantas que aprontou, foi esparramar 200 mil reais dentro do Palácio dos Buritis, sede do Governo do Distrito Federal. Contido pelos seguranças, bateu em funcionárias, quebrou um dedo de um policial e saiu preso. Sabe-se lá porque, hoje está recluso graças a algum “Cala Boca”.

Quanto aos parlamentares da oposição, que desfilavam calúnias no período, estão bastante ocupados na manhã desta terça-feira. Devem estar inventando argumentos para tentar defender o governador tucano de Goiás, Marconi Perillo, que se encontra sentado como depoente na CPI do Cachoeira. O goiano é acusado de ser sócio, parceiro, subserviente ao bandido Cachoeira, que inclusive foi preso dentro de uma casa que foi do governador.

De Brasília,
Kerison Lopes

segunda-feira, 11 de junho de 2012

ex-BBB Daniel sobre processo contra a TV Globo

  • O ex-BBB Daniel chora no "Mais Você" (21/3/12)O ex-BBB Daniel chora no "Mais Você" (21/3/12)
ex-BBB Daniel sobre processo contra a TV Globo:"Não tenho por que me calar e ter medo"


Carla Neves
Do UOL, no Rio

Expulso do "Big Brother Brasil 12" pela produção do programa, acusado de "comportamento inadequado", o ex-BBB Daniel Echaniz afirmou que vai entrar com uma ação por danos morais e materiais contra a TV Globo. Em entrevista exclusiva ao UOL, o modelo contou como anda sua vida após o incidente, afirmou que a emissora acabou com sua carreira de 12 anos e confessou que foi duro para sua mãe, que é vendedora de jornal, vender exemplares em que as matérias de capa o traziam como “estuprador”. “Tenho um filho para criar, estou sem trabalho e com o filme queimado”, contou o modelo, por telefone.
Atualmente morando em São Paulo, Daniel revelou que não teme lutar na Justiça contra a maior emissora do Brasil. “A TV Globo foi tão cruel que não pensou na consequência do que fez comigo. Não tenho por que me calar e ter medo”, afirmou Daniel, que namora a modelo Mônica Silva, que está grávida de três meses e meio.

Leia a seguir a entrevista completa com Daniel:

UOL – Como está sendo sua relação com as pessoas na rua? Você sofreu algum tipo de represália ou as pessoas estão te tratando bem?
Daniel Echaniz – As opiniões são sempre divididas. Por enquanto, boa parte das pessoas está do meu lado, indignada com a situação. Muitas pessoas falam para eu processar a TV Globo, dizem que tudo o que aconteceu foi culpa dela. Mas quando as pessoas não sabem do fato em si, tiram opiniões precipitadas. Depois que fui inocentado, com o andar da carruagem, as pessoas viram que não era bem assim. Se eu fui inocentado, não tem mais o que falar. Tudo caiu por terra. Não fui inocentado por um achismo. Fui inocentado por um juiz, que avaliou as provas. O cara viu que eu não fiz nada. Então a opinião das pessoas mudou um pouco de figura. Muitas pessoas que me julgaram na ocasião estão arrependidas. É o que eu sempre digo: ‘quando você aponta o dedo para alguém tem três apontados para você'. Agora as coisas estão se acalmando.

E a sua mãe? Ela ficou bem abalada na época. Como ela está atualmente?
Minha mãe e minha mulher [a modelo Mônica Silva] ficaram muito impressionadas e na época não podiam falar nada. Até por tudo o que aconteceu. Minha mãe e a Mônica estavam muito expostas. Venho de uma família muito humilde, independente de ser modelo e viajar o mundo inteiro. Não sou só um cara bonitinho. Fiz por onde para chegar onde cheguei na minha carreira. E todo mundo sabe que minha mãe vende jornal no sinal. Na época, ela teve que vender jornal comigo na capa, como estuprador. E as pessoas compravam o jornal falando mal de mim. E ela tinha que dizer: ‘ele não é safado, é o meu filho’. Então para ela foi muito sofrido. Julgar é muito fácil. Se falassem só de mim, tudo bem. Mas envolveu toda a minha família.

Sua família foi afetada por conta do episódio?
Minha irmã é professora e teve problema na escola. Meu irmão que trabalha com informática também teve problema no trabalho.

Você ficou com mais raiva da TV Globo por ter afetado a sua família também?
Não tenho raiva porque opinião todo mundo pode ter. Acho que as pessoas só podiam ter um pouco mais de respeito. A Deborah Secco, a Fernanda Paes Leme, a Carolina Dieckmann e a Preta Gil, por exemplo, tinham que ter noção da força da palavra delas. O movimento que elas começaram na internet, quando aconteceu o episódio, tomou força porque elas abraçaram a palavra estupro. É a mesma coisa que eu chegar e falar que você é uma mentirosa, que nada do que você escreve é verdade. Você dificilmente vai ter crédito no seu trabalho. Você vai ter que começar do zero e provar tudo o que você é e já conquistou no seu trabalho de novo. Elas não tiveram essa consideração com a pessoa Daniel. Não pensaram que tenho família, sentimentos. Elas não pensaram na força da mídia.

Você vai processar a TV Globo?
Vou processar a TV Globo e a Endemol por danos morais e materiais. Ainda não entrei com o processo. Pretendo processar toda e qualquer pessoa que denegriu a minha imagem. O que aconteceu comigo no “Big Brother Brasil” virou tese de mestrado em faculdade de direito. Na tese, foi mostrado que eu não tinha culpa. Até porque tem n elementos. O simples fato de a Monique deitar na cama comigo já quebra o ato do estupro, porque ela me procurou. Tem coisas pelas quais as pessoas me condenaram e não sabem. Em momento nenhum fiquei na posição de réu, tampouco na posição de vítima. Eu e a Monique demos os nossos depoimentos na posição de testemunhas. Não tinha uma vítima e um réu de fato.

Você acha que foi retirado do programa e julgado por preconceito, por ser negro?
O que eu acho é que houve um equívoco muito grande por parte do diretor do programa [Boninho]. Eles já tinham feito a besteira e não deu para voltar atrás. Se foi preconceito não sei.

Como você foi selecionado para entrar no programa?
Diferentemente do que muitos pensam, eu tinha negado participar do programa quatro vezes. A equipe do programa me procurou e insistiu para que eu participasse. Em momento algum mandei material. Eles me acharam no camarote da Skol Sensation e me convidaram para participar. Eu não procurei a direção do programa. Já tinha um contrato fechado para ir para a África do Sul. Mas parei para analisar e pensei que com o dinheiro poderia ajudar a minha família e abrir uma ONG para deficientes físicos.

Você se arrepende de ter entrado, então?
Não sei se me arrependo de ter entrado. O que me deixou chateado foi que eles me tiraram o direito de concorrer ao prêmio em dinheiro e à aventura de estar enclausurado. Queria ver como eu lidaria com o confinamento. Eles me tiraram esse direito. Depois de tudo o que aconteceu, fiquei muito triste. Perdi trabalhos que provavelmente eu não vou mais fazer. E isso tomou proporções internacionais. Saíram matérias no Japão, na África do Sul... Diferentemente do que a TV Globo acha, tenho uma potência ao meu favor que é a internet. Ao mesmo tempo que ela te coloca como Deus, ela te coloca como diabo em dois segundos. Tenho tudo isso documentado. Eles acabaram com a minha carreira de 12 anos.

Você não quis aceitar o convite do Faustão para falar sobre o caso. Por quê?
Mentira. O Faustão me convidou para ir e a TV Globo me proibiu de ir. Em momento nenhum eu me neguei a ir ao programa dele. Pelo contrário. Queria ir. Mas a direção da TV Globo me proibiu. O horário em que é exibido o “Domingão” é do Faustão. Por isso ele convida e fala o que quer. A TV Globo tinha medo que eu fosse e falasse algo que a colocasse em alguma saia justa.

Você conversou com o Boninho e o Bial após o caso? O que eles te disseram?
Não houve uma conversa. Eles não me procuraram para se retratar nem para falar nada.

O que a Globo te ofereceu em troca após te eliminar do programa? E qual seria o valor dessa ajuda de custo que a Globo ficou de pagar e não cumpriu?
Estávamos em negociação para chegar a um denominador comum, que fosse legal e viável para os dois lados para que eu não tomasse a atitude de ir para frente com o processo. Afinal, um processo demora anos. E a lei no nosso país é muito lenta. E a TV Globo tem força e pode usar dessa força para o seu bem próprio. Acredito na Justiça e espero que ela seja feita. O quanto ela vai ser lenta nós não podemos saber. Tenho um filho para criar, estou sem trabalho e com o filme queimado.

Você espera algum tipo de retratação da Globo pelo ocorrido?
Claro. Mas isso nunca vai acontecer. Na história da TV Globo você já viu ela pedir desculpa para alguém? Por isso, enquanto eu puder lutar e fazer Justiça para que num país como o nosso não sejamos reféns de uma emissora, eu vou lutar. Todo mundo tem medo da TV Globo. Qual é o segredo de tanto poder? Já se perguntaram, já pararam para pensar nisso? Da mesma forma que ela fez isso comigo, pode fazer com outras pessoas. Até quando vamos dar poder a uma emissora para falar o que pode ser feito? O brasileiro tem o direito de pensar livremente.

Você está morando no Rio ou em São Paulo? Ainda está andando de carro blindado e mudando de endereço?
Estou morando em São Paulo e andando de ônibus e metrô, como sempre andei. Tenho uma vida normal. Mas várias vezes ainda me sinto privado de algumas coisa pela situação que a TV Globo me deixou. Vou ter um filho e ele vai sofrer com isso. Vai sofrer bullying no colégio. ‘Sabia que você tem um coleguinha que o pai é estuprador?’. A TV Globo foi tão cruel que não pensou na consequência do que fez comigo. Não tenho por que me calar e ter medo. Claro que eu tenho que saber o que falar porque tudo pode ser usado contra mim. Estou totalmente livre, leve e solto.

sábado, 9 de junho de 2012

Livro que narra trajetória do Hip-Hop chega às livrarias

Poesia, canções, muitos ritmos e um bate-papo sobre uma das maiores manifestações da contracultura de nossos tempos: o hip-hop. Assim foi o sarau de lançamento da obra O Hip-Hop Está Morto! do artista multimidia, Toni C., na Livraria da Vila, em Pinheiros, São Paulo (SP). Foi o primeiro lançamento em uma livraria. Até então, já havia sido lançado em clubes e centros culturais paulistanos, somando quase 40 eventos.
 
Participantes da obra e do lançamento. Foto: Márcio Salata























Em uma sala decorada com telas do graffiteiro Bonga, o lançamento na livraria aconteceu na terça-feira (29) e reuniu figuras importantes do universo hip-hop e até quem virou personagem do livro como B.boy Banks, Beto Teoria, Nuno Mendes, Paulo Brown, Anderson 4P, graffiteiro Mundano, W.Y.O, do grupo RPW, videomaker Vras77, o fotógrafo Márcio Salata, Panikinho, entre outros.

“Se a história é nossa deixa que nóis escreve”, afirmou o rapper Renan Inquérito, que comandou as atrações, juntamente com Toni.

As cerca de 100 pessoas presentes debateram a importância da literatura, mesclada com expressões musicais populares, bem como rimas, música e arte. O músico Wesley Noog abriu a atividade com seu violão.

Rodrigo Beat box foi atração a parte fazendo sons impressionantes com a boca, imitando animais e músicas de diversos rítimos. Chegou a atrair os leitores mirins e até os clientes mais tradicionais para o Sarau.
Pop Black, companheiro de Renan no grupo Inquérito não deixou por menos, arrepiou a todos com sua voz.

Nas prateleiras

Agora, a produção que é totalmente independente, conquistou seu espaço nas livrarias. Além da Livraria da Vila, também pode ser encontrado na Livraria Cultura.

Assista a entrevista com o autor, feita pelo Cultura News:




redação do Vermelho

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Em Carta Alunos/as de Especialização da UFPR apoiam Estudantes Negras vítimas de Racismo

CARTA ABERTA EM APOIO E SOLIDARIEDADE ÀS DUAS ALUNAS NEGRAS E
COTISTAS RACIAIS DO CURSO DE PEDAGOGIA DA UFPR.
Se numa brincadeira você ri e eu choro, então não houve brincadeira! 
Iniciamos nossa manifestação de repúdio à atitude preconceituosa da professora Lígia Regina Klein, do Setor de Educação da Universidade Federal do Paraná (UFPR), ao dizer que duas alunas negras se pareciam com “macacas”.
Para isso, pedimos licença aos nossos ancestrais africanos que foram sequestrados e aprisionados no Brasil por mais de 350 anos na condição de escravizados. Externamos nosso respeito à população negra brasileira que padece de estrutura perversa de racismo que destaca o país como sendo “um dos racismos mais perversos e sofisticados do mundo” (Carneiro, 2000), em função das estruturas das relações de poder, das estratégias de manutenção do “status quo” e de uma educação no ensino fundamental, médio e superior que pouco ou nada está voltada para a educação das relações étnico-raciais.
No contexto da citação acima vimos a público manifestar nosso apoio e nossa solidariedade às duas alunas mulheres, negras, jovens e cotistas raciais do curso de Pedagogia da UFPR.
Tem sido amplamente divulgado nos meios de comunicação, assim como nas redes sociais o ocorrido no dia 11 de abril de 2012, por volta das 20h35, na sala de aula 704, no prédio Dom Pedro I, no Setor de Educação da Universidade Federal do Paraná um episódio envolvendo duas alunas negras cotistas do curso de Pedagogia da UFPR, que vieram a denunciar, posteriormente, segundo Boletim de Ocorrência amplamente divulgado através de jornais e redes sociais, a professora Lígia Regina Klein por injúria racial (Art. 140 parágrafo 3º do Código Penal ) por se referir às alunas como se fossem macacas.
Contudo, enquanto o processo tramita em instâncias legais considerando que racismo no Brasil é crime (Lei 7716/ 89 e Lei 12.288/10. Estatuto da Igualdade Racial) e a justiça ainda não finalizou o processo, temos assistido a uma série de moções de apoio em defesa da professora. Tais argumentos tendem a inocentá-la e afirmam que as acusações das alunas são caluniosas, infundadas e injustas ou como se tudo não passasse de um “lamentável equívoco”. Equívoco de quem? De quem brincou ou de quem chorou com a brincadeira? Quem brincou não deveria ter brincado? Ou quem chorou não deveria ter chorado?
A professora, que tem uma trajetória pública em defesa dos movimentos sociais, desculpou-se com as alunas em carta aberta. Sobre o episódio , Klein alegou que se tratava de uma “brincadeira” sem intenção de ofender as alunas que são negras, jovens e cotistas raciais. Diz: “O que ocorreu: em sala de aula, em horário de intervalo, aguardando o tempo para o início das aulas, deparo-me com duas alunas (para mim, absolutamente indiferente da sua condição étnico/racial) comendo bananas. Numa atitude absolutamente carinhosa, fiz uma brincadeira...” Continua: “O que eu literalmente falei foi "- ah... agarradinhas numa bananinha, hem... parecem duas macaquinhas" (Profa. Lígia Regina Klein, Carta enviada em 18/04/2012, amplamente divulgada na internet- grifo nosso).
Entendemos que uma das questões centrais em torno da Lei 10.639/2003, que altera a LDB e torna obrigatório o ensino de História da África, Cultura Africana e Afro-brasileira nas escolas é discutir a educação das relações étnico-raciais e, sobretudo, primar pela valorização da diversidade étnico-racial no ambiente escolar. Assim é inconcebível que haja na atual conjuntura social, destacadamente, na UFPR, uma Instituição comprometida desde 2005 com um programa de inclusão racial, educadores capazes de olhar e tratar os seus alunos “absolutamente indiferente da sua condição étnico/racial”, conforme confessou a professora Lígia. Ao contrário, acreditamos que as diversidades precisam estar explicitadas nos olhares dos educadores comprometidos com as transformações sociais. Não se pode ter um olhar universal sobre o padrão estético (fenótipo) das pessoas e muito menos dos educandos. Hoje a UFPR constitui um espaço onde encontramos alunos homens e alunas mulheres; alunos negros, brancos, indígenas ou amarelos; alunos com deficiência e sem deficiência; alunos homossexuais e heterossexuais; alunos jovens ou idosos que precisam ter suas identidades reconhecidas.
Todo educador responsável tem o dever de saber que todas estas diversidades são portadoras de subjetividades e não são poucas. Há estigmas e estereótipos que recaem mais sobre uns que em outros. Reproduzir práticas discursivas comparando o animal macaco às duas alunas negras, que são cotistas raciais, foi um erro gravíssimo e que não se deve aceitar com naturalidade dentro do ambiente acadêmico, tendo ou não a intenção de ofender. Queremos chamar atenção a um processo injusto e cruel no Brasil de mais de meio milênio que gerou e gera sofrimentos e humilhações para com a população negra (pretos e pardos). Por isso mesmo, a responsabilidade da pessoa que assume uma postura pública em defesa dos oprimidos é maior. E
não há como ser diferente. Espera-se, justamente, dela uma postura firme de combate aos estereótipos e estigmas que recaem sobre a população negra e não o reforço dos mesmos. Uma pessoa que tem uma trajetória em defesa dos oprimidos não pode ser inocentada de suas responsabilidades pelos seus atos de preconceito, discriminação e racismo ainda que não tenha sido a “intenção”.
No mesmo sentido, observamos que os olhares daqueles que já inocentaram a professora, em função de sua trajetória  acadêmica, antes mesmo de um parecer judicial, não se voltaram para a trajetória de vida destas duas jovens, mulheres, negras e cotistas raciais daquela Instituição.Verificar, por exemplo, nos históricos escolares o que fez a “brincadeira” da professora lhes produzir sensação de humilhação, dor, sofrimento e discriminação seria no mínimo sensato para julgar o caso. A maioria das crianças negras nas escolas brasileiras são xingadas de macacas constantemente. Negros são xingados de macacos porque macacos não são humanos. Pessoas negras são humilhadas quando comparadas a animais e acabam não se vendo representadas como seres humanos na sociedade. O racismo questiona a humanidade das pessoas negras. É curioso que uma das alunas [quando ouviu o pedido de desculpas da professora] reafirmou sua preocupação com a continuidade do processo [dentro da UFPR] de forma que pudesse atuar para que ninguém mais fosse xingado, para que ninguém mais tivesse que mudar de curso ou de turno como tem ocorrido, para que outros (as) alunos (as) não tenham que passar pela mesma situação. (Carta/Relato enviada por Paulo Vinícius B. da Silva, em 22/04/2012 sobre a reunião com a professora e alunas em e-mail amplamente divulgado).
Aqui, entendemos que a preocupação da aluna não foi evidenciar a professora, mas chamar atenção para o comprometimento da Universidade neste e em outros casos que acontecem lá dentro.
Mesmo com o pedido de desculpas da professora, as alunas acharam justo continuar o processo e “fora” das instâncias da Universidade. E isso, além de revelar que elas continuam ofendidas, pode inferir que foram pressionadas a aceitar o pedido de desculpas e não continuar o processo. Acreditamos que cabe à Universidade junto as suas instâncias legais promoverem ações de combate ao racismo e acatar o que a legislação estabelece ao invés de tentar solucionar o problema simplesmente com pedido de desculpas. Se assim for, indica que os alunos(as) negros(as) que são cotistas raciais e que sofrem algum tipo de discriminação racial estão completamente abandonados na UFPR. No mesmo sentido, o acordo e o pedido de desculpas pela professora ocorreram em sala fechada onde as alunas, que ainda estão no segundo ano de pedagogia, dialogaram com cinco professores doutores do Setor de Educação: Profa. Dra. Deise Picanço; Profa. Dra. Ligia Regina Klein; Prof. Dr. Paulo Vinícius B. da Silva; Profa. Dra. Tânia Maria Baibich e Profa. Dra.Tânia Zimmer. Não nos pareceu uma reunião em que as alunas teriam outra saída que não, naquele momento, aceitar o pedido de desculpas. Ainda a respeito disso, Miranda em sua carta questiona :
“Colocadas no espaço acadêmico vindas de um segundo ano de curso, ainda sem argumentos para elucidar seu próprio constrangimento, muito mais sentido do que compreendido sob uma ótica intelectual? Quem pode entender facilmente o que é a histórica da apartação social quando não se viveu tal apartação? Teriam realmente estas estudantes sido acolhidas, ou teria sido definida sua acusação de intransigência ou imaturidade? Pergunto aos senhores meus colegas [professores do Setor de Educação]: se sabem realmente como transcorre a vida dos cotistas nesta Universidade?... (Carta enviada pela Profa. Dra. Sônia Miranda. Departamento de Educação UFPR. Amplamente divulgada na internet) Pelo que se observa, nesta reunião, os docentes agiram em flagrante violação aos valores democráticos e dos direitos humanos.
Também não parece justo que as alunas passem de vítimas a rés na estrutura da Universidade onde quase se constituiu um acordo tácito entre professores influenciando alunos da pós-graduação e graduação. Uma chuva de e-mails enviados aos movimentos sociais, sindicatos e partidos políticos solicitaram apoio, assinaturas em moções em defesa da professora Lígia sem enfatizar o fato em si.
Os membros da academia, pelo que observamos, usaram sua “legitimidade” e sua estrutura de poder sem oferecer as vítimas chances alguma de defesa. Quem de fato se preocupou com as alunas? Numa metáfora bastante simples: tudo nos lembra, sem exageros, o filme “Avatar” de James Cameron. Fica nítida a postura de silêncio e omissão do caso onde as vítimas é quem deveriam receber moções de o poio dos segmentos sociais e das pessoas comprometidas com o combate ao racismo, considerando a forma como o caso foi tratado dentro da UFPR. Até o momento, houve uma única manifestação pública em defesa das alunas por parte dos professores do Setor: Caso das estudantes afrodescendentes... um outro olhar.
Contudo, a professora Lígia, em carta aberta, assumiu que errou.
Diz: Em condições opostas, cometemos o mesmo erro: descuidamos de que é a História que dá conteúdo às palavras. Falei sem nenhum laivo de racismo, mas mesmo assim cometi um erro: desconsiderei a história de dor de vocês. Filhas dessa história terrível de reiterado preconceito, vocês têm toda legitimidade (sob seu ponto de vista) de fazer uma leitura que incluía o racismo.
(Ligia Klein. Carta encaminhada ao NEAB em 19/04/2012- grifo nosso) O cerne do debate qual é? É o racismo. E, sobretudo o “racismo acadêmico” quando percebemos que a Universidade, muitas vezes, age tal quais muitas escolas quando praticam “racismo institucional”: acobertam, negam, defendem, articulam com as redes de apoio, ficam em silêncio ou silenciam o grito de quem contesta a forma de educar. Não raras vezes as crianças negras, vítimas de discriminação racial no cotidiano escolar, são tidas como equivocadas. Este esquecimento, negação e silêncio são de cunho estratégico na manutenção do “status quo” da estrutura. Para Nelson Inocencio (1999):
Por haver uma hegemonia da intelectualidade branca que reduz e minimiza as sequelas do racismo é que o embate no campo das ideias torna-se um confronto absurdamente desequilibrado, deixando, obviamente, militantes/acadêmicos negros, que querem intervir no debate dentro da universidade, em significativa desvantagem. (INOCÊNCIO,1999. p.26. grifo nosso)
Nesse contexto, chamamos atenção para duas questões centrais na educação das relações étnico-raciais: o valor da diversidade étnico-racial como prática constante dos educadores e a inercialidade na forma como o racismo brasileiro é tratado na sociedade brasileira, nas Universidades e especialmente neste caso: como mera “brincadeira”.
Entendemos que as moções de apoio à professora não conseguiram problematizar a temática do racismo tampouco a necessidade de que a Universidade cumpra as suas responsabilidades na promoção da igualdade racial. Seja na forma de produzir conhecimento, redução da subrepresentação de docentes negros; seja na forma como a Lei 10.639/2003 vem sendo implementada. Precisamos com urgência perscrutar a forma como o programa de inclusão social e racial na UFPR vem sendo gerenciado para a garantia de sua efetividade. Sabemos que o racismo atua de forma estrutural e multifacetada. Atua nas pessoas de diferentes formas sejam elas progressistas ou conservadoras, por isso é preciso dialogar sobre a questão de forma comprometida.
Por fim, asseguramos que a professora Lígia com intenção ou sem intenção de ofender estas jovens mulheres negras e cotistas raciais, ofendeu-as, perversamente, ao dizer que elas pareciam macacas. E ofendeu a população negra de forma geral. Ninguém por ser progressista pode ser inocentado de qualquer prática racista, machista ou homofóbica ou de reproduzir estigmas e estereótipos sobre grupos raciais. Justamente o que se espera é uma cobrança maior destes que publicamente assumem um papel de defesa dos oprimidos.
Referências:
CARNEIRO, Sueli. Entrevista concedida a Marina Amaral, Marina Fuentes, José
Arbex et alii. Disponível em
em 29 out. 2000. [Entrevistadores: Marina Amaral, Marina Fuentes, José Arbex
Jr., Ricardo Vespucci, Marco Frenette.]Sueli Carneiro,
INOCENCIO, Nelson. Relações raciais e implicações estéticas. In: OLIVEIRA,
Dijaci David de. 50 anos depois: relações raciais e grupos socialmente
segregados. Brasília: Movimento Nacional de Direitos Humanos, 1999.

Maio de 2012, mês de reflexão sobre as relações.

1ª Turma do Curso de Especialização Pós em Educação das Relações Raciais
da UFPR/Carta assinada por todos os alunos da turma.

Comissão do Senado aprova:50%das vagas nas universidades federais para alunos de escolas públicas,negros e índios


Comissão do Senado aprova cotas nas universidades federais

publicado: gazeta do povo

O projeto determina que 50% das vagas nessas instituições sejam destinadas aos alunos que estudaram em escolas públicas no ensino médio

Depois de quatro anos parado à espera de votação no Senado, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Casa aprovou nesta quarta-feira (6) projeto que estabelece o sistema de cotas raciais e sociais nas instituições federais de educação superior. O projeto determina que 50% das vagas nessas instituições sejam destinadas aos alunos que estudaram em escolas públicas no ensino médio.

Essas vagas também têm que ser divididas proporcionalmente à quantidade de negros, pardos e índios fixada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em cada Estado. Isso significa que, em Estados onde a maioria da população é negra, grande parte das vagas para alunos oriundos de escolas públicas será destinada a estudantes que também têm origem negra.

Em localidades como Santa Catarina, onde apenas 9% da população é negra, a maioria das vagas será preenchida com base nas cotas sociais, e não raciais. Já na Bahia, onde 73% da população é negra, as vagas vão priorizar estudantes negros.

O projeto também estabelece que, do total de 50% de vagas destinadas às cotas, metade delas tem que ser reservada a alunos oriundos de famílias que recebem até 1,5 salário mínimo por integrante --para priorizar os estudantes de baixa renda do país.

Relatora do projeto na comissão, a senadora Ana Rita (PT-ES) defendeu o sistema misto de costas por considerá-lo mais justo ao país. A senadora Marta Suplicy (PT-SP), que defendeu o relatório da petista, disse que o Brasil precisa pagar a dívida que mantém com os estudantes negros.

"Quantas pessoas negras vieram do nada e hoje têm patrimônio e hoje são senadores da República? Aqui temos um senador da República que se diz negro. O preconceito existe. Nós temos uma dívida que, desde a escravidão, não foi paga", afirmou Marta.

Debate

Marta alfinetou o senador Lobão Filho (PMDB-MA), que apresentou voto em separado para defender cotas apenas para estudantes do ensino público. O peemedebista disse que estudou parte de sua vida em escolas públicas, o que provocou a reação de Marta.

"Vossa Excelência é filho de governador. Provavelmente Vossa Excelência fala uma língua. É muito difícil aprender língua estrangeira em escola pública. Seus pais devem ter pagado um curso particular ou Vossa Excelência foi para o exterior estudar. Não dá para comparar", alfinetou Marta.

O senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) também apresentou voto em separado para estabelecer apenas as cotas sociais para ingresso nas universidades, sem critérios raciais. Mas foi derrotado pela maioria dos integrantes da comissão. "A moça branca, pobre, de valor, pode ser preterida sobre o seu vizinho que tem origem negra. A cota social é o que mais coaduna com o princípio da igualdade", disse o tucano.

Com a aprovação na CCJ, o projeto segue para análise de duas comissões do Senado e ainda precisa passar pelo plenário da Casa. Ele foi aprovado pela Câmara em 2008 e, desde então, espera pela análise dos senadores. Se sofrer mudanças durante sua tramitação no Senado, ainda terá que retornar à Câmara para nova votação.

Em abril deste ano, o Supremo Tribunal Federal (STF) já decidiu que o sistema de cotas raciais em universidades é constitucional. O julgamento tratou de uma ação proposta pelo DEM contra o sistema de cotas da Universidade de Brasília (UnB), que reserva 20% das vagas para autodeclarados negros e pardos.








quarta-feira, 6 de junho de 2012

Em carta PSTU declara apoio às alunas vítimas de racismo na UFPR

Declaração do PSTU a respeito da denúncia de racismo no Setor de Educação da UFPR

O lamentável episódio ocorrido no Setor de Educação da UFPR, já amplamente conhecido pela comunidade universitária, suscitou distintas reações e posicionamentos, dentro da universidade e fora dela.

Até o momento, nós, militantes do PSTU, não havíamos nos posicionado a respeito. Surgiram boatos de que o PSTU teria divulgado “comunicados oficiais” e de que teríamos organizado, juntamente com a ANEL, um protesto contrário à Prof. Lígia Klein. Nada disso aconteceu. Para desfazer desde já todo e qualquer mal entendido, afirmamos categoricamente: esta é a primeira declaração do PSTU a respeito do caso.

A versão dos fatos divulgada pela Prof. Lígia Klein, bem como seu pedido de desculpas e suas cartas abertas (por sinal endossadas pela maioria dos professores do Setor de Educação), são bem conhecidas do público. Em contrapartida, o testemunho das alunas foi pouco difundido. Essa desigualdade na divulgação das versões e das impressões dos envolvidos é, em si, um forte indício de que a situação é mais complicada do que parece.

Com as autoridades brancas ou com as estudantes negras? Com os opressores ou com os oprimidos?

Em primeiro lugar, queremos dizer que estamos ao lado das alunas. Somos solidários às estudantes, defendemos seu direito de protestar e de reagir contra uma situação que elas consideraram discriminatória ou ofensiva. Defendemos, inclusive, o seu direito de recorrer à justiça.

Declaramos nosso apoio a essas duas estudantes, que agora estão sendo alvo de uma reação conservadora por parte do corpo docente da universidade e inclusive por parte de organizações de esquerda que reivindicam o socialismo!

Vemo-nos com a obrigação de declarar que, infelizmente, os comentários da Prof. Lígia Klein possuíam sim forma e conteúdo racistas, discriminatórios. E a prova dessa caracterização não será encontrada em declarações ou em teorias, mas nos fatos, isto é, na reação das vítimas. São as vítimas que devem dizer se os comentários foram ou não racistas. São os seres humanos que sofrem cotidianamente a opressão na sociedade capitalista que devem dizer se foram ou não foram oprimidos. Não cabe aos brancos que reproduzem o racismo, mesmo que involuntariamente, decidir se sua conduta é ou não racista. O mesmo ocorre com todo tipo de opressão. Um exemplo é a opressão machista que sofrem as mulheres: quem tem condições de dizer o que sente sobre esse tipo de opressão são as mulheres, não os homens.

Continuam sendo racistas os comentários, brincadeiras ou insinuações que reproduzem a forma ou o conteúdo da ideologia racista, mesmo que não seja esta a intenção do autor da declaração, brincadeira ou insinuação. Essa compreensão está na base da legislação que pune a discriminação racial e também na base da lei de criminalização da homofobia, que defendemos.

Vejamos dois exemplos, para reflexão.

Na Europa, jogadores de futebol brasileiros negros são chamados de macacos pelas torcidas dos times adversários. Bananas são atiradas no campo. Trata-se de racismo, e aqui não há qualquer questionamento sobre a intenção dos autores dessa prática. Por outro lado, no ano passado, o cartunista Solda, com longa trajetória de colaboração em jornais de esquerda, desenhou um macaco humanizado supostamente fazendo o típico gesto de banana (com os braços) para o presidente Barack Obama, que visitava o Brasil. Houve reação imediata do movimento negro. A charge foi considerada racista. Em entrevistas, Solda apresentou inúmeras justificativas e pedidos de desculpas, mas não foram suficientes. A imagem até poderia ser interpretada de acordo com o que supostamente seria sua intenção original (só revelada pelo autor posteriormente), mas também poderia ser interpretada, por sinal mais facilmente, como racista: Obama teria sido retratado como um macaco.

Não há a menor dúvida, portanto, de que afirmação “Só fazendo um lanchinho, hein? Duas macaquinhas comendo banana”, que estaria registrada no boletim de ocorrência, segundo a reportagem da Folha de São Paulo do dia 04 de maio, ou afirmar que as alunas “esqueciam o texto, mas não as bananas”, como se divulgou em outras fontes, foram comentários racistas, mesmo que não tenha sido esta a intenção da Prof. Lígia Klein.

Desculpar-se ou justificar-se?

A atitude da Prof. Lígia Klein, de se desculpar imediatamente ao saber da denúncia das alunas, foi correta. A propósito, era a única atitude correta. Se o caso tivesse terminado assim, com um sincero pedido de desculpas pelo lapso, pela infelicidade da comparação, talvez não escapasse dos limites do Setor de Educação. Mas o problema se agravou a partir do momento em que a professora procurou justificar suas declarações e livrá-las da acusação de racismo.

Apoiando-se nessa reação defensiva e alimentando-a, a maioria dos docentes do Setor iniciou, a partir de então, um movimento corporativo, conservador, desenvolvendo uma operação de blindagem da professora, cujo resultado foi o desenvolvimento de uma ideologia, através de suas declarações em e-mails, que, na prática, significa a naturalização do racismo. O retrocesso ideológico foi tão grande que agora a Prof. Lígia Klein está sendo considerada uma vítima da situação, ao passo que as estudantes, que são as vítimas reais, as culpadas!

Perguntamos: se a Prof. Lígia Klein não fosse uma reconhecida militante dos movimentos sociais, as declarações teriam sido tratadas com a mesma condescendência solidária por parte de seus colegas professores? E se a “brincadeira” tivesse partido de alguém que fosse reconhecidamente um militante da direita? Ou mesmo de alguém sem qualquer militância política ou partidária?

Para nós, é justamente por se tratar de uma militante de esquerda que devemos dar mais atenção e tratar com maior rigor a questão, porque queremos que a esquerda seja a referência na defesa do programa contra qualquer tipo de opressão. Esse critério programático decorre da necessidade de unificar toda a nossa classe na luta estratégica pelo socialismo, atraindo os setores oprimidos que são submetidos à superexploração e à opressão.

Não achamos que as organizações socialistas revolucionárias vivam numa “redoma de vidro” e estejam imunes às pressões ideológicas e à moral decadente da sociedade capitalista. Ocorre justamente o contrário. Também as organizações de esquerda (e seus militantes) estão sujeitas a reproduzir as ideologias e a moral que predominam no capitalismo. Por isso, a importância da elaboração política e teórica nesse terreno, bem como o combate cotidiano às opressões na luta política e ideológica. A questão principal é como as organizações de esquerda encaram esse tipo de problema.

A intervenção da Direção do Setor de Educação agravou a opressão

As iniciativas institucionais tomadas frente ao caso, pelo Setor de Educação e pelo NEAB, em que pese a intenção de promover uma “solução mediada”, foram, a nosso ver, medidas que agravaram a opressão a que as estudantes estão submetidas.

Citamos como exemplo a reunião ocorrida no Setor de Educação, no dia 20 de abril, com a presença das duas alunas e de cinco docentes, entre eles um representante do NEAB, a vice-diretora do Setor, a professora acusada e a Coordenadora do Curso de Pedagogia. Do ponto de vista das estudantes, não poderia haver situação mais opressiva do que essa. Por que não convidar também uma representação do DCE e do Centro Acadêmico? Por que tanta desigualdade?

É óbvio que nessas circunstâncias, no interior desse julgamento sumário com aparência de comissão de conciliação, as estudantes aceitariam o pedido de desculpas e se comprometeriam a dar o caso por encerrado. Direta ou indiretamente, foram “aconselhadas” a fazê-lo.

No entanto, a opressão foi tamanha que, saindo dessa reunião, as alunas se decidiram a registrar o boletim de ocorrência, com razão, em nossa opinião.Novamente, chamamos todos e todas a se colocar no lugar de quem sofre a opressão. As alunas se sentiram coagidas ao ver toda uma movimentação de apoio à professora, perceberam que não teriam qualquer ajuda naquele espaço.

A opressão institucional se tornou ainda maior quando a Direção do Setor de Educação abriu uma sindicância para identificar os autores de cartazes apócrifos que apareceram no Setor. Nesses cartazes, manifestantes anônimos protestam contra a situação, dizendo “Prof. Lígia Klein, dê uma banana para o racismo”. Podemos discordar do teor, da forma e do método dessa campanha política, não entraremos aqui no mérito. Mas a abertura de sindicância ou de processos administrativos contra quem se manifesta politicamente, mesmo no anonimato, não nos parece uma atitude correta para uma instituição de ensino. Trata-se, uma vez mais, de uma reação burocrática, autoritária, conservadora.

Como dissemos, a atitude inicial da Prof. Lígia Klein, de se desculpar e se dispor a fazer todo o possível para reparar o dano, foi a única correta. Empenhada, porém, em justificar-se e afastar de si a acusação de injúria racista, e incentivada pelos seus próprios colegas de profissão a fazê-lo, chegou a escrever na carta aberta às duas estudantes que ela, Lígia Klein, errou, mas que as alunas também teriam errado, ao desconsiderar sua história de luta. Ora, por que um estudante que acaba de ingressar na universidade teria a obrigação de conhecer a trajetória acadêmica ou política de seus professores? E de que forma essa história poderia eximi-la da responsabilidade pelas declarações? De que forma essa história atenuaria ou anularia a opressão que as meninas sofreram e continuam sofrendo? Uma história de luta pelo socialismo aumenta a responsabilidade do militante, e não constitui em hipótese alguma um salvo-conduto permanente para declarações públicas ou privadas.

Nem um passo atrás na luta contra a discriminação racial!

Posteriormente, ainda como parte dessa reação conservadora, alguns professores do setor passaram a divulgar mensagens incitando a Prof. Lígia a processar as estudantes e a requer indenização por danos morais. Houve uma ampla articulação política de distintas organizações com o fim de prestar solidariedade à Prof. Lígia Klein, através de manifestos, abaixo-assinados e até de moções aprovadas em assembleias da categoria.

Muitas pessoas se preocuparam com a situação emocional e de saúde da Prof. Lígia, mas poucos se preocuparam com o estado emocional das estudantes, que estão sendo oprimidas, agora, por uma parcela ainda maior da comunidade acadêmica.

Nós, militantes do PSTU, queremos reafirmar nossa solidariedade e nosso apoio às estudantes.

A postura adotada pelo Setor de Educação e pelas correntes de esquerda que prestam solidariedade à Prof. Lígia Klein, e que buscam forçar as estudantes a retirar a acusação, são uma grave capitulação, um passo atrás na luta contra a discriminação racial.

Essa campanha está reforçando as posições da direita, que encontrará nesse episódio o precedente político, jurídico e institucional para ações racistas, discriminatórias. Crescerá o sentimento de impunidade. A direita se sentirá de mãos livres, principalmente na conjuntura atual, em que estamos frente à necessidade de lutar pela consolidação das políticas afirmativas de combate à discriminação, como as cotas raciais.

Para nós, a luta contra toda forma de opressão e discriminação é parte indissolúvel da luta contra a exploração capitalista. Defender em primeiro lugar os oprimidos, os explorados, as vítimas do capitalismo, essa é a missão das organizações que lutam pelo socialismo. A opressão favorece a exploração capitalista e divide a nossa classe. Nossa tarefa é manter firme a luta contra qualquer tipo de opressão, com o objetivo de unificar a classe trabalhadora na luta pelo socialismo.

Nem um passo atrás na luta contra o racismo, o machismo e a homofobia!
Defendamos o direito de reagir contra situações discriminatórias!
Pelo arquivamento dos processos administrativos ou sindicâncias envolvendo manifestantes!

Que o movimento negro aponte as medidas necessárias de reparação e as políticas para que a universidade reflita sobre o caso, com o objetivo de avançar na luta contra a discriminação racial!