quinta-feira, 31 de julho de 2014

O racismo não está nas diferenças

Por Jarid Arraes
publicado:revista Forum



No último dia 25, Dia Nacional da Mulher Negra, data oficializada no Brasil como oportunidade para homenagear Tereza de Benguela, houve muita discussão em torno da necessidade de se criar uma data separada para as mulheres negras. Muitos alegam, em comentários na própria página da Revista Fórum, que o 25 de Julho acaba sendo mais uma forma de racismo, pois diferencia as mulheres negras das demais mulheres, especialmente das brancas. Muitos comentaristas são pessoas bem intencionadas, que não conseguem identificar a raiz do desconforto que sentem em datas como o Dia da Mulher Negra ou o Dia da Consciência Negra. Eventos voltados para as pessoas negras acabam incomodando essas pessoas. Por quê?

O Brasil é um país que trata questões raciais de forma problemática e preocupante: é corriqueira a noção de que nomear cores é indesejável, ou seja, a simples constatação de que há pessoas brancas, pretas e amarelas, para grande parte da população, já é encarada como uma espécie de racismo. O que essas pessoas ignoram ou teimam em compreender é que o racismo existe a partir da ideia de superioridade de um grupo sobre outro, tendo como um de seus mecanismos o silenciamento e apagamento das manifestações identitárias do grupo considerado inferior. Portanto, o racismo não está no fato de reconhecer que existem pessoas de diferentes cores e práticas culturais enraizadas na experiência coletiva de cor, mas sim em dissimular o material e escondê-lo, sem promover qualquer reflexão sobre a diversidade existente em certo contexto social.

Em nosso país há pessoas de muitas cores, assim como manifestações culturais plurais e diversificadas; afinal, nossos ancestrais se originaram de diferentes lugares do planeta, de quem herdamos nossas religiões, danças, músicas, artes e culinária. Não há nada de racista em enxergar as belas diferenças no Brasil – mas é preciso ir além da celebração. A cor de uma pessoa, atualmente, ainda implica em situações de discriminação ou desfavorecimento. Esse é um fato histórico que vem sendo reproduzido há muitos séculos e ganha força na omissão. Por isso, agir como se o racismo não existisse não faz com que ele desapareça; pelo contrário, possibilita sua manutenção sem que em qualquer momento seja desafiado.

Quando o movimento negro e o feminismo negro estabelecem datas simbólicas e levantam o debate racial dentro dos movimentos sociais, a esperança é de que mais pessoas passem a enxergar o racismo estrutural e cotidiano, presente em todas as esferas sociais. Usando o 8 de Março – Dia da Mulher – como exemplo, é possível analisar a forma como o racismo atua: nesse dia é feita uma universalização da experiência feminina, seja no sentido político ou no sentido de homenagem. O que acontece é que todas as mulheres são unificadas sob seu gênero, sem que sejam consideradas suas especificidades. Isso não é totalmente negativo, mas ainda é muito prejudicial para certos grupos de mulheres. Ser uma mulher negra não é o mesmo que ser uma mulher branca – e isso não se justifica sob pretextos biologizantes e higienistas, mas sim por razões socioculturais. Isso é um fato pautado em dados, estatísticas e análises acadêmicas dos dados colhidos em pesquisas: a forma como mulheres negras são tratadas em nossa cultura é carregada da herança mais cruel trazida da escravidão e ainda hoje continua dificultando suas vidas.

Somos pessoas diferentes e tais diferenças são pertinentes no mundo real. Isso não quer dizer que somos melhores ou piores do que outras pelo simples fato de termos a pele de uma certa cor ou uma religião diferente da outra. Ainda assim, conscientizar-se de nossas diferenças nos prepara para reagir diante do racismo, não o aceitando independente de quem seja agredido por ele. Além disso, a plena aceitação da diversidade possibilita a convivência amistosa e o respeito pelo espaço do outro, sem nenhuma síndrome de superioridade. Desse ponto de vista, é possível entender, por exemplo, que o cabelo crespo é uma característica das pessoas negras, que ainda lutamos contra o preconceito direcionado a esse tipo de cabelo e que esse preconceito é originado no racismo. Somente identificando todos esses fatos e nomeando o racismo é possível que ele seja extinguido.

Por isso, um dia para lembrar e discutir as especificidades sociais das mulheres negras não configura racismo. Datas como 25 de Julho e 20 de Novembro são oportunidades catalisadoras de força, meios de denunciar a discriminação e de propor soluções. O racismo não está em nossas diferenças, mas sim na hierarquização que, infelizmente, ainda é atribuída a elas.

Foto de capa: Flickr / University of the Pacific Black Law Student Assoc.

quarta-feira, 30 de julho de 2014

Toda mulher negra é um quilombo


25 de Julho: toda mulher negra é um quilombo
(Foto de capa: Reprodução/Facebook)

ONU CRIA A DÉCADA DO AFRODESCENDENTE





publicado: Revista Raça Brasil
ONU cria a Década do Afrodescendente | Foto: Shutterstock

A Organização das Nações Unidas (ONU) aprovou uma resolução contra o racismo e a discriminação racial, propondo o período de 2013 a 2022 como a Década do Afrodescendente, fato que pode aprofundar, de forma mais efetiva, os debates e a concretização em relação aos direitos da populaçãoafrodescendente.

Segundo a Seppir, a resolução aprovada solicita que se comece um processo de interlocução com os países integrantes, com o objetivo de debater a implantação da década, além de conferir maior visibilidade do tema em fóruns internacionais. A resolução ainda faz recomendações aos cerca de 200 países integrantes a adotar diretrizes políticas a fim de atender demandas da população negra ao redor do mundo.


Ocupado por artistas, prédio abandonado no centro de SP tem shows, oficinas e arte

Cerca de 80 artistas ocuparam o prédio desde o dia 1º de maio; lugar tornou-se residência artística e centro cultural
matéria:Gabriel Nanbu
publicado:virgula.uol.com.br

Se você estiver nos arredores do metrô Anhangabaú, em São Paulo, é possível que ouça sons de guitarra e bateria vindo de algum lugar ali por perto. Se seguir o barulho, encontrará a fachada de um prédio velho e destruído na Rua do Ouvidor, nº 63. As apresentações de música que ocorrem no porão do edifício, geralmente às quintas, são só uma das atividades que vêm acontecendo por lá desde o último dia 1º de maio. Naquele Dia do Trabalho, um grupo de cerca de 80 artistas – pintores, desenhistas, cineastas, músicos, fotógrafos, atores, dançarinos – ocupou o local, até então abandonado, e o transformou em um efervescente centro cultural.

"Pegamos um prédio que estava há nove anos ocioso e o revitalizamos. A gente ocupou com a intenção de transformá-lo em uma residência artística e um centro cultural", diz a figurinistaGicodéllic (na foto aqui embaixo, de amarelo), do Androides Andróginos, coletivo que articulou a ocupação.



A programação da Ouvidor 63, voltada para quem quer que tenha interesse, é afixada na entrada do prédio e postada no Facebook. Nos últimos três meses, têm rolado oficinas diversas (de edição de vídeo a dança com bambolê), exibição de filmes (Cineclube Inferno, no terceiro andar; não espere assistir a Os Vingadores por lá) e apresentações performáticas, dramáticas e musicais. O edifício serve, ainda, como lugar de dormir e trabalhar para uma galera de talento com projetos em desenvolvimento.

A reportagem do Virgula Inacreditável subiu os 13 andares do edifício (exercício da semana). Os novos habitantes da Ouvidor, 63 deram um senhor talento no lugar. Limparam as salas, consertaram encanamentos, mexeram na fiação elétrica e decoraram as paredes com desenhos bacanas (com isso, também gastaram uma grana).

Pelos cantos, há som de gente fazendo música, instalações de arte, araras de roupa. Entre janelas de vidro quebrado com vista para a Praça da Bandeira, lêem-se frases pichadas na parede: "A revolução sexual começa pelo cu", "O homem é a cura do homem".

Conversamos com alguns artistas do rolê. Um pintor, Augusto Amaral (o cara da foto no começo da reportagem), nos impressionou bastante. Ele nos recebeu em seu ateliê/ dormitório, no terceiro andar, e mostrou quadros e seu caderno de desenhos. Com influência de pintores clássicos e de ilustrações de HQ, ele cria coisas de fazer cair o queixo.

"A ideia é ter um lugar de pensamento aberto que atenda à arte de forma inteligente e com real qualidade. Não é para ter Naldo aqui. Deixa o Naldo lá fora. Nós corremos atrás de caras como Van Gogh e Elis Regina e fazemos acontecer de forma colaborativa. Deveriam copiar esse modelo em outros lugares", disse Augusto, antes oferecer um pedaço de chocolate.

O futuro da ocupação artística, no entanto, é incerta. A Ouvidor 63 recebeu, há duas semanas, uma notificação de reintegração de posse e agora estuda uma forma de revertê-la na Justiça. O imóvel pertence ao Governo do Estado, mas não é utilizado por ele desde a década de 80. Contatada pela reportagem, a Secretaria de Planejamento, responsável pelo edifício, informou que a destinação do prédio está "sendo estudada pelo Conselho do Patrimônio Imobiliário".



Pedro Marini (foto acima), baixista da banda gaúcha Picanha de Chernobill e organizador dos eventos no porão da Ouvidor 63, se mostra cético quanto a continuidade da ocupação. "Algumas pessoas já saíram do prédio com medo de terem seus materiais de trabalho confiscados em uma futura reintegração de posse feita pela polícia. Muitos não querem mesmo pagar para ver. Não sabemos o que fazer", disse.

O músico foi um dos que participaram do ato de 1º de maio e organizou a vinda de um ônibus com cerca de 30 artistas de Porto Alegre para participar do projeto. "O prédio estava condenado, sem fio elétrico, sem encanamento, sem nada. Tinha só o esqueleto. A gente investiu grana e energia para melhorar o edifício", disse. "Eu me emociono todo dia que subo e desço essas escadas. Você se depara com caras com muito talento, mas que estariam dormindo em praça se não estivessem aqui".

Concorrência das cotas gera ‘cobiça’ entre vestibulandos

publicado: gazeta do povo
matéria: Marcelo Frazão do JL

A Universidade Estadual de Londrina (UEL) abriu 3 mil vagas para cursos de graduação no último vestibular. O sistema de cotas, iniciado há dez anos, reservou 1.212 vagas para a disputa exclusiva por alunos da rede pública (739 vagas) e por negros e pardos vindos da rede pública (473 vagas).

As cotas abriram as portas da UEL a estudantes que, até então, tinham mais dificuldade para ingressar no ensino superior. No entanto, como têm concorrência, em média, até cinco vezes menor do que as enfrentadas por candidatos não negros e vindos do ensino privado, o sistema também desperta cobiça.

Defesa
Cotista considerada não negra pela UEL sustenta a matrícula na Justiça
A estudante Gabriela Fernanda Carvalho de Oliveira, que concorria a uma vaga das cotas no curso de Medicina da UEL, não convenceu a comissão de que é parda e foi reprovada junto com outros seis inscritos. A UEL concluiu que ela é branca, baseada na foto dela na ficha de inscrição do vestibular e na entrevista com a comissão avaliadora. O juiz Marcos José Vieira, da 1ª Vara de Fazenda Pública, discordou e validou a matrícula.

“É possível depreender que a requerente tem traços que a distinguem notoriamente como pessoa da raça negra. A fotografia fala por si: os cabelos da requerente são encarapinhados e sua boca possui contornos pronunciados, características que, aliadas à cor mais para o moreno de sua pele, são bem próprias de pessoas de origem negra”, considerou o juiz.

O advogado Jackson Ariukudo afirmou não existirem dúvidas de que sua cliente é de cor parda. No recurso perpetrado na Justiça, a estudante anexou fotos dos pais (negros) e sustenta ser vítima de racismo decorrente da cor. “Existe muita subjetividade da comissão, que não fundamentou o motivo da recusa. Limitaram-se a dizer que não a reconhecem como cotista. E só.”

Em 2014, por exemplo, o curso de Medicina tinha concorrências bem distintas entre os dois segmentos cotistas e o de não cotistas. Na disputa geral, cada vaga tinha 98,25 candidatos. Nas cotas para quem estudou em escolas públicas, eram 72,19 por vaga. Já entre negros ou pardos de escolas públicas, 12,75 por vaga.

“Infelizmente, há quem tente burlar esse direito conquistado a duras penas pleiteando, de forma injusta e indevida, uma vaga em cursos por meio das cotas, com concorrências bem menores”, diz Margarida de Cassia Campos, professora da UEL que integrou a última comissão formada para validar as matrículas de candidatos que se declararam negros ou pardos.

Integram a comissão mem­­bros de movimentos negros, da UEL e de segmentos envolvidos com o tema. No último vestibular, sete alunos foram reprovados nessa avaliação, por não se enquadrarem na exigência de traços fenotípicos negros ou pardos. O critério desconsidera a ascendência negra, ou seja, entende-se que pais e avós negros não transmitem necessariamente ao candidato o direito de pleitear a vaga por cotas.

No começo deste mês, o juiz Marcos José Vieira, da 1.ª Vara de Fazenda Pública, determinou à UEL, em sentença definitiva, a matrícula da estudante Gabriela Fernanda Carvalho de Oliveira, 18 anos, de Matelândia, no curso de Medicina, pelas cotas para negros e pardos vindos do ensino público.

A HISTÓRIA DO CANTOR E ATIVISTA FELA KUTI

publicado: Revista Raça Brasil
TEXTO: Alexandre de Maio | FOTOS: Divulgação | Adaptação web: David Pereira
O cantor e ativista nigeriano Fela Kuti | FOTO: Divulgação
Fela Anikulapo Ransome Kuti nasceu na Nigéria, em 1938, em uma família de classe média do estado de Ogun, cujos membros eram bastante articulados, social e politicamente. Vem de berço a atuação explosiva e transformadora de Fela Kuti que, aos 20 anos, foi morar em Londres para, a princípio, estudar medicina. Na capital, inglesa, porém, enveredou para o curso de música no Trinity College of Music, onde criou a banda Koola Lobitos com um novo estilo de som, o Afrobeat, uma reunião dos elementos do jazz, do rock psicodélico e do Highlife, originário da África Ocidental.

Em 1963, já casado com Remilekum (Remi) Taylor, Fela voltou para a Nigéria e começou a trabalhar como produtor de rádio, em paralelo com as atividades da banda. No final dos anos 60, ele e a Koola Lobitos voltaram aos Estados Unidos. O músico passou a ter contato com o Movimento Black Power e com as músicas de James Brown. Pronto! O movimento negro e suas ideias passaram a influenciar fortemente as canções e a visão política de Fela Kuti. Uma combinação pra lá de explosiva! Nessa mesma época a Koola Lobitos foi rebatizada e ganhou o nome de Nigeria 70.

Uma nova república

Sem visto de trabalho, Fela e os membros da banda foram obrigados a deixar o solo americano, não sem antes realizar uma sessão de gravação em Los Angeles que, mais tarde se tornaria o álbum The '69 Los Angeles Sessions. Revolucionado pelas ideias de Malcolm X, o musico volta para a Nigéria e funda a República Kalakuta, uma pequena comunidade, com um estúdio de gravação, onde os mais chegados podiam viver em harmonia. Fela chegou a declarar que Kalakuta era um Estado independente da Nigéria.

Nessa época se apresentava numa casa que ele próprio criou e mudou seu nome do meio para "Anikulapo" (que significa "aquele que carrega a morte no bolso") . A cada gravação o tom político das letras crescia e sua popularidade aumentava em toda a Africa. Fela gravava sua musica em Pidgin, uma espécie de dialeto usado para ser entendido em todo o continente, baseado em inglês.

Sua fama aumentava e o governo começava a se incomodar e os ataques a Kalakuta eram comuns. A perseguição policial era intensa. Em 1977 ele lançou a musica Zombie onde comparava os soldados nigerianos a zumbis, o sucesso do álbum se traduziu numa brutal invasão de mais mil soldados onde Fela foi espancado, sua mãe morta, a República Kalakuta incendiada e seu estúdio destruído junto com centenas de horas de gravações.


Album The '69 Los Angeles Sessions | FOTO: Divulgação


Fela que quase morreu na ocasião, enviou o caixão de sua mãe para os militares e escreveu duas canções "Coffin for Head of State" e "Unknown Soldier". Em 1978 casou-se com vinte e sete mulheres, muitas delas entre suas vocalistas e dançarinas e fez dois grande shows, em um deles as confusões o levaram a ser proibido de entrar em Gana, no outro toda sua banda o abandonou.

Fela não desistia e montou seu próprio partido chamado Movimento do Povo e 1979 se candidatou a presidente da Nigeria que amargava mais de 10 anos sem eleições, mas sua candidatura foi recusada. Abalado criou a banda Egypt 80 e continuou a gravar e a incomodar a política do país, em 84 foi preso e acusado pelo governo militar por lavagem de dinheiro. Foi solto 20 meses depois e se separou de 12 esposas, continuou gravando e viajando e politicamente ativo.

Em 1989 lançou o álbum Antiapartheid "Beasts of No Nation" que exibe em sua capa o Presidente dos Estados Unidos Ronald Reagan, a primeira-ministra britânica Margaret Thatcher e o primeiro-ministro da África do Sul P.W. Botha com caninos pingando sangue.

No anos 90 começou a se espalhar o boato que teria AIDS e em 3 de Agosto de 1997 Olikoye Ransome-Kuti, seu irmão anunciou sua morte causada pelo Sarcoma de Kaposi em decorrência do vírus da AIDS. Seu enterro foi marcado pela presença de mais de um milhão de pessoas.

Fela foi um ícone da luta contra os regimes ditatoriais da continente africano. Criativo, competente, Kuti colocou a musica Nigeriana no topo, polêmico defendia o pan-africanismo e hoje sua figura influencia e inspira ativistas no mundo inteiro.

Paraná precisa triplicar ensino integral

publicado: gazeta do povo

No Centro de Educação Integral Ulysses Silveira Guimarães, 570 crianças estudam das 8 às 17 horas todos os dias

Metade das escolas deve ofertar, por dia, ao menos 7 horas de atividade escolar para 25% dos alunos, segundo meta do Plano Nacional de Educação
O Paraná terá de quase triplicar a oferta de vagas no ensino fundamental em tempo integral para cumprir o que foi estabelecido pelo Plano Nacional de Educação (PNE). Se mantiver o ritmo atual, com base nos dados do Censo Escolar da Educação Básica 2013, o estado levará 19,5 anos para cumprir o que o PNE prevê para uma década: ter 25% dos estudantes da educação básica estudando em tempo integral distribuídos em 50% das escolas públicas. Isso significa criar, em média, 21,7 mil vagas por ano. Para ser considerada educação em tempo integral, os estudantes precisam ter uma jornada de no mínimo 7 horas diárias. Na educação regular, são apenas 4 horas por dia de atividades na escola.

Hoje passam o dia todo na escola 114,3 mil estudantes paranaenses de escolas públicas, ou 121,6 mil se consideradas também as matrículas das particulares, em diferentes modelos de atendimento em tempo integral. Enquanto essa existência de diversos modelos garante uma diversidade que pode ser interessante para preservar a cultura de cada localidade, ela também demonstra uma dificuldade enfrentada na educação integral. Há um clima de indefinição a respeito do que deve fazer parte da nova rotina dos estudantes nessa ampliação de jornada. Não há legislação específica ou qualquer tipo de fórmula que norteie os gestores municipais ou estaduais e a própria comunidade escolar.

Essa indefinição é um dos fatores que torna difícil o caminho para o cumprimento da meta, segundo o professor e pesquisador Angelo Souza, membro do Núcleo de Pesquisa em Políticas Educacionais da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Ele considera ousado ter um quarto dos alunos estudando em tempo integral até 2024, algo que também exige recursos para uma grande ampliação física. “Não temos clareza no Brasil e tampouco no Paraná sobre o que queremos com a educação em tempo integral. E deixar a criança na escola por mais tempo, sem um projeto de formação educativo mais sólido, não faz sentido nenhum”, diz.

Já o especialista em educação Ricardo Falzetta, gerente de conteúdo da organização Todos pela Educação, defende que a meta do PNE foi construída com timidez. Embora considere o caminho da ampliação da educação em tempo integral desafiante, para Falzetta a meta poderia ter ido além. “Estudos mostram que aumentar a exposição de alunos a situações de ensino, que é o que se espera com o tempo integral na escola, melhora o desempenho desses alunos. A meta poderia ser mais ousada. Apenas 25% dos alunos em dez anos é uma determinação muito tímida”, afirma. Confira no quadro ao lado como estão distribuídas as vagas na educação em tempo integral no Brasil e o quanto o Paraná precisa avançar para atingir a meta do PNE.

Curitiba já bateu a meta e quer reorganizar rede
Cerca de 70% dos alunos paranaenses que passam o dia na escola são da rede municipal. Em Curitiba, as escolas de tempo integral existem há 27 anos. Segundo Marcelo Yudi Kimora, gerente da educação em tempo integral da Secretaria Municipal de Educação, a capital paranaense já ultrapassou a meta do PNE de ter ao menos 25% dos estudantes em tempo integral, e deve continuar expandindo essa oferta. Contudo, o momento não é de ampliação de escolas, mas de reorganização, diz Letícia Mara de Meira, diretora do departamento de ensino fundamental.

“Hoje temos uma estrutura física eclética e escolas que foram concebidas de forma diferente ao longo de diferentes gestões. Então estamos reorganizando o tempo e os espaços, o trabalho pedagógico e a distribuição das atividades das crianças para que elas não cansem. Também estamos formando profissionais para atender de forma integral, pois não é replicar o que faz pela manhã e fazer o mesmo à tarde, temos de melhorar a qualidade do ensino”, explica Letícia.

Ela afirma que também está sendo feito o estudo da demanda pelo ensino integral e a análise do que está funcionando melhor em cada região. “A demanda pela educação em tempo integral é oscilante, depende da organização da família e da localização da escola. Tem pai que prefere que o filho faça inglês à tarde e outras atividades, então temos de avaliar para oferecer a quem tem necessidade.”

Recentemente, uma iniciativa da secretaria facilitou a vida de muitas famílias, que passaram a ter mais condições de aderir ao ensino em tempo integral. “Em julho começamos a oferecer transporte da escola à unidade de educação integral, o que antes tinha de ser feito pelos pais e, com isso, aumentou o interesse das famílias em matricular as crianças no período integral”, completa Kimora.



terça-feira, 29 de julho de 2014

Cinema negro será tema do Latinidades em 2015

Agencia Brasil
Conferências e debates tiveram público estimado em 4 mil pessoas Valter Campanato/Agência Brasil

O Festival Latinidades 2014: Griôs da Diáspora Negra  já tem tema definido para a próxima edição em 2015: o cinema negro. Este é um tema que vem sendo pensado desde o início do festival, disse a idealizadora e coordenadora do evento, Jaqueline Fernandes.

“Queremos discutir o papel da mulher negra nessa cadeia cinematográfica, o seu protagonismo na produção e também como atriz. Na África, por exemplo, as pessoas não conhecem a vasta produção da Nigéria, em obras que se espalham pelo mundo.” Segundo Jaqueline, qe é produtora e jornalista, o objetivo é circular e poder estar em todas as regiões administrativas do Distrito Federal (DF), sede do festival. “Queremos formar cineclubes que possam sair do Plano Piloto [área central do DF], assim como estamos hoje em uma casa de santo na periferia.”

As atividades do último dia do Latinidades – almoço coletivo e plantio de um baobá – foram no terreiro Ilê Axé Òyá Bagan. A representatividade das plantas trazidas da África também foi tema de debate e a figura imponente do baobá compôs os ambientes do festival. Os baobás são árvores sagradas e estão presentes em vários aspectos da sociedade e cultura africanas. Segundo Jaqueline, o plantio dessa espécie deve continuar em outros terreiros.

Para Jaqueline, quando se pensa em negritude, as pessoas têm em mente cenas que giram em torno de Salvador ou do Rio de Janeiro e, por isso, é importante que o festival seja no Distrito Federal. “Não tem no imaginário a presença de negros em Brasília – as pessoas pensam que são minoria, quando na verdade, uma pesquisa da Codeplan [Companhia de Planejamento do Distrito Federal] diz que a população negra do DF é mais que 50% do total. A pesquisa fala também onde essa população está presente: nas periferias e nas paradas de ônibus do Plano Piloto.”

De acordo com a produtra, fazer o festival na capital do país é fortalecer a presença negra, que é maioria, incentivar as pessoas à autodeclaração e à celebração. "Tem pessoas do mundo todo vindo para Brasília discutir igualdade racial e de gênero, debater políticas públicas. É esse o espaço de protagonismo da mulher negra, aqui é a capital e que espera-se que ela seja um espelho para o país”, reforçou Jaqueline.

A organização do evento ainda não tem dados concretos sobre a presença do público nos showse outras atividades culturais, mas estima que cerca de 45 mil pessoas tenham passado pelo Museu da República. As conferências e mesas de debates, para as quais é preciso fazer inscrição, registraram 
e cerca de 4 mil pessoas.
Jaqueline destaca que todos os debates tiveram a intersseccionalidade proposta. “Tivemos ali gente discutindo sobre as griôs da diáspora e pontuando diversos saberes. Lançamos um olhar sobre o que é mesmo um griô, essas mulheres incríveis que tem conhecimentos em várias áreas, com práticas em diferentes momentos, oficinas de capoeira, trabalho de benzedeiras, encontro de saberes dentro da academia, da cultura popular e do samba, por exemplo.”

O Festival Latinidades 2014: Griôs da Diáspora Negra começou no dia 23, em Brasília. Houve conferências, debates, feiras, saraus e shows, além de outras atividades, com a presença de personalidades e artistas de vários estados brasileiros, América Latina, Caribe, Estados Unidos e Moçambique, em prol da promoção da igualdade racial e enfrentamento ao racismo e sexismo.

Mais informações sobre o evento, que foi criado em 2008 e se consolidou como o maior festival de mulheres negras da América Latina, estão no site do evento.

20 anos sem Mussum

14 coisas que você (ainda) não sabe sobre o Mussum, de "Os Trapalhões" TV Globo/Reprodução
Da esquerda para a direita: Mussum, Didi, Dedé e ZacariasFoto: 
TV Globo / Reprodução
publicado:zh.clicrbs.com.br/
Nesta terça-feira, 29, completam-se 20 anos que o humorista Mussum morreu. Antônio Carlos Bernardo Gomes ficou famoso por ter interpretado o personagem Mussum no programa televisivo Os Trapalhões, por cerca de 20 anos, ao lado de Didi, Dedé e Zacarias.
O humorista morreu jovem, aos 53 anos, em decorrência de um transplante de coração mal sucedido. Para lembrar a data, confira a lista de 14 coisas que você ainda não sabe sobre o artista, adaptada da lista "40 coisas incríveis que você provavelmente não sabia sobre a vida e a carreira do Mussum", do site Buzzfeed.
~Mussum para a presidência!!!~

Foto: Reprodução
1) O apelido Mussum nasceu durante uma apresentação de Antônio Carlos Bernardes com seu grupo Originais do Samba durante um programa de tevê. Quem deu o apelido foi ninguém menos do que Grande Otelo – ator, cantor e comediante.
2) Quem aconselhou que Mussum falasse com ‘is’ no fim das palavras foi o comediante Chico Anysio. Assim nasceram: "como de fatis", "tranquilis" e "não tem problemis". Ela ainda não era humorista assumido e fazia participações na Escolinha do Professor Raimundo.
3) Mussum era chamado de Caco pelos familiares por causa do boneco dos Muppets.
4) Quem convenceu Mussum para entrar para Os Trapalhões foi Dedé Santana, que era fã de Originais do Samba.
5) Mussum era um homem com muitas habilidades: fabricava seu próprio reco-reco, serviu a aeronáutica, aprendeu a tocar bateria na aeronáutica, sabia enviar mensagens em código Morse, fez curso de ajustador mecânico, tinha licença de Cabo Arraiz para dirigir lanchas, foi diretor da Ala das Baianas da Mangueira e investiu no ramo de empreiteiras, com a Construtora Ébano.
6) Ele usou a gíria "Lepo Lepo" muito antes do Psirico e em dois momentos diferentes: na música Because Forever, gravada em 1986 em seu disco solo, e em uma entrevista para a revista Casseta Popular, em 1990.
~Em que trecho está "lepo lepo"?~
7) O humorista tinha um envolvimento muito grande com a música. No samba, regravou faixas de Adoniram Barbosa (Saudosa Maloca, Samba do Arnesto e As Mariposas) e gravou uma das primeiras composições de sucesso de Zeca Pagodinho (Chiclete de Hortelã). Na bossa nova, gravou uma música deVinicius de Moraes e ganhou um festival ao lado de Elis Regina.
8) Ele era flamenguista e tinha uma bandeira do Flamengo autografada porZico em casa. Mas quando morou em São Paulo, entre 1967 e 1976, adotou o Corinthians como segundo time.
9) Mussum colaborou com diversos projetos sociais nas décadas de 80 e 90. Entre eles, a doação de um consultório odontológico para a Comunidade do Morro da Mangueira.
10) No bairro do Morumbi, em São Paulo, há uma rua com o nome de Rua Comediante Mussum. Ela fica bem perto da Rua Comediante Zacarias.
11) Mussum contracenou com Hebe Camargo e Ronald Golias em uma encenação de Romeu e Julieta na TV Record nos anos 60.
12) Ele interpretou Jesus Cristo no filme Os Trapalhões no Auto da Compadecida.
13) Mussum declarou apoio à candidatura de Maluf à presidência.
14) Certa vez, Mussum tomou umas porradas de Bud Spencer – que participou ao lado de Terrence Hill de Os Trapalhões. Bud e Terrence ficaram famosos por filmes de 'western spaghetti'.


RESTO

por: Denis Denilto
Do céu as lágrimas caem e aqui 
embaixo, bem embaixo o coração dói.
Não resta muita coisa para o agora. 
Em um mundo "gris" esperar é a última esperança!
Não há nada novo neste instante.
Nesta manhã experimente o mesmo de antes.
As Lágrimas choram neste tempo cinza.
Tenho azia ao mesmo de sempre...
As folhas caem lentamente e lentamente
deixo adormecer minha mente.
Não adianta resistir!
As lágrimas caem e o coração dói
em um mundo cinza. 
Só me resta a azia depois de ver cair
lentamente as folhas dormidas na mente.


Elas no Grafite

Gabriela Soutello e Patrícia Homsi

Grafite de Jana Joana, de São Paulo
publicado na revista Cult
Na calçada estreita de uma travessa entre as ruas Clélia e Coriolano, no bairro da Lapa, Carolina Maciel, Magrela ou simplesmente Mag, de 28 anos, e Fefa, amiga e parceira de pinturas, posicionam seus carrinhos de compras abastecidos de galões e embalagens de tinta spray. O sol forte, o calor e a necessidade de ganhar mobilidade levam Mag a erguer a saia longa, manchada de pinturas anteriores.

O cabelo, porém, continua solto, enquanto a artista desenha os primeiros traços. Os carros que transitam por ali são poucos, mas exigem que as duas se protejam rapidamente na calçada. Uma Kombi passa com cuidado. O motorista deseja “bom trabalho” às meninas. Depois, uma simpática senhora pede: “Continuem fazendo esse trabalho bonito. Isso é que é arte! Se precisarem tomar uma água, eu moro na segunda casa, bem aqui!”.

Há quem não considere o grafite arte. Para estes, trata-se de mera pichação. Há quem diga que é “coisa de adolescentes” e culpe grafiteiros e grafiteiras pela “deterioração do espaço público”. Mas há também os que se surpreendem positivamente com o movimento, que avança pelas cidades, transforma muros e prédios abandonados, chega às paredes mais altas, aos túneis e viadutos.

Frequentemente associado à pintura rupestre, o grafite surgiu na década de 1970, nos guetos da cidade de Nova Iorque, Estados Unidos. Hoje, é visto como elemento cultural imerso no movimento hip hop, acoplado ao break, ao rap e às figuras de DJs e MCs. Entre tubos, sprays, pincéis e rolinhos, o grafite se faz presente como intervenção artística na paisagem urbana.

Para Sista Kátia, nascida há 27 anos em Salvador e grafiteira desde os 15, “o grafite ainda é a arte dos excluídos, é a anti-arte”. Tendo crescido em contato direto com o movimento nas ruas, Kátia defende o grafite também como manifestação social. “É a forma mais pura de a gente se manifestar, seja para dizer coisas boas ou ruins ou soltar um grito. É o reflexo do que a gente está vivendo hoje”, diz.

“Pode representar tanto um apelo estético de flores numa casa abandonada, um embelezamento no cinza, ou frases enormes de protesto, como se viu muito nas manifestações de junho”, acrescenta. Para ela, “o grafite vai servir sempre como uma forma de mostrar que a gente está viva e percebe tudo o que está acontecendo”.

Verônica Amores, de São Paulo

Panmela Castro, artista carioca de 32 anos, também considera o grafite uma forma de expressão e interação com as pessoas. “Quando eu botava tinta na parede, todo mundo queria falar comigo. Criei a boneca boladona, um tanto autobiográfica, porque estava insatisfeita e queria falar com as pessoas, mas era muito tímida”, explica.

Histórias contadas nos muros

Ligada ao feminismo e ao anarquismo desde a adolescência, Sista Kátia foi apresentada aos muros por amigos homens, e logo surgiu o desejo de quebrar estereótipos femininos por meio de uma pintura própria: “Comecei a pintar com meninos e os temas eram sempre ligados ao cotidiano deles”, diz. Por isso, ela criou uma boneca gordinha, desenhada sem roupas, de cabelos ora cacheados, ora trançados, ora no estilo black power.

“A ideia é questionar o belo e o padrão imposto”, diz. “Se a gente não se encaixa, fica no limbo. Por que eu tenho que emagrecer, alisar o cabelo, ser alta?”. Em busca da continuidade de sua personagem em meios mais receptivos, Kátia decidiu formar grupos femininos de grafite e pintar conforme sua temática preferida.

Nas mulheres de Panmela Castro, o padrão é representado como uma prisão. “Eu trabalho com tons quentes, rosa, vermelho, que são cores femininas. Não que eu ache que a mulher feminina é necessariamente essa, mas falo dessa prisão que é o estereótipo da mulher rosa, delicada, de cabelos longos. As minhas mulheres estão presas a isso, por isso estão sempre tristes e cheias de lágrimas”, explica.

As personagens de Mag também são desenhadas em cores quentes, principalmente em laranja. A artista tenta expressar tudo o que a incomoda relacionado à sociedade. “Quando eu expresso o que sinto como mulher, a dor faz com que as mulheres se identifiquem com aquilo”, diz. Segundo ela, existem diferenças também na apreensão de homens e mulheres: “Elas acham maravilhoso; já os homens acham forte demais. Até se incomodam um pouco”, conta Mag.

Mag Magrela, de São Paulo

“Cada trabalho quer passar uma mensagem e cada muro é uma história diferente”, afirma Nina Pandolfo, que tem 36 anos e hoje pinta em tela – mas que já passou por suportes como madeira, vidro, parede e até pedra. “Teve uma vez em que eu passei em uma rua que tinha meninas prostitutas de 14, 15 anos. Para protestar, pintei meninas de calcinha. Chegou um cara e falou que eu estava pintando pornô, e eu respondi: o que é pior, a pintura ou a realidade?”.

Nina teve seu primeiro contato com o grafite aos 13 anos, quando participou de uma oficina em uma sala só de meninos. O professor, quando a viu, disse de imediato: “Olha, aqui é um curso de grafite, viu?”. Nina não se intimidou: assentiu e entrou. Já havia feito teatro de rua e passado a observar o espaço público como um suporte alternativo para seus trabalhos artísticos. “Na primeira vez em que eu pintei na rua, não estava preocupada com a polícia, com o proibido. Minha adrenalina era conseguir passar um desenho de 15 centímetros para uma parede de 6 metros”.

Esta integração com o espaço também é fundamental para Jana Joana, de 35 anos, que carrega o grafite como sinônimo de arte livre. A grafiteira desenha e pinta desde os oito, a partir de um curso de iniciação artística que fez em São Paulo. Quando foi às ruas, entre os 19 e os 20 anos, Jana começou usando látex e tintas nacionais “bastante aguadas”, por conta dos altos custos dos sprays, o que deixava suas pinturas, segundo ela, com ares de aquarela, o que se tornou predominante no grafite nacional. “Acabei desenvolvendo uma técnica mais minha, adaptada às condições que tinha. Se é isso que a gente tem, é com isso que a gente vai transformar o mundo!”, diz.

No traço de Jana Joana percebe-se a busca da máxima identificação com a mulher: o selfie e o empoderamento, “mesmo na rua, um mundo um pouco mais masculino”. Tendo por objetivo principal alguma transformação no receptor de sua arte, Jana afirma: “Gosto de pensar que estou ajudando alguém a se encontrar. É uma pretensão: a gente manda uma mensagem e ela vai ser recebida de acordo com o receptor”.

Foi também pensando em aproveitar o canal direto com as pessoas, de impacto imediato que Nina Pandolfo saiu grafitando as ruas. “É uma arte efêmera, pode durar uma hora, um dia, um ano, você não sabe. É difícil construir uma história que seja perpetuada, que você passe e fale: ‘olha aqui, é um grafite da minha tataravó!’”.

Sista Kátia, de Salvador

Barreiras

Nos anos 1990, o grafite invadiu as ruas com mais força e repercussão. Em consequência, veio também a repressão. “Na época, você não sabia se era porque você é mulher ou se era por se tratar de algo novo”, afirma Nina. “Como com tudo que é novo, as pessoas ficam em dúvida se gostam ou não”.

Segundo Verônica Amores, de 34 anos, “por vivermos em uma sociedade machista, patriarcal e violenta, o fato de ser grafiteira requer muito mais cuidado do que quando se é um grafiteiro homem”. Para ela, “pintar na rua é sempre uma missão, um desafio, porque a gente nunca sabe o que vai encontrar”, diz. “A rua é viva, é perigosa, abraça a gente”. Mag acredita que a energia positiva direcionada à ação acaba atraindo atitudes boas dos passantes, mas é necessário vigiar o caos do lado de trás. “Eu estou de costas para o mundo, mas a mochila é como uma armadura”, brinca.

“Tem essa coisa de ficar ligada, saber evitar uma situação de risco, evitar comentários que não sejam bacanas”, ressalta Sista Kátia. “Tem gente que acha que pode fazer alguma coisa pelo fato de você estar sozinha pintando o muro, se expondo”.

Apesar das dificuldades, Mag afirma que o fato de ser mulher também impõe mais confiança na hora de conseguir autorização para pintar um muro. “Sinto mais facilidades do que barreiras na rua. É muito mais fácil que alguém confie em mim, por ser mulher, para pintar um muro”, expressa Mag. “Não é fácil dar a cara para bater, mas é gratificante deixar que todas as pessoas que passam pelo meu trabalho entrem no meu mundo”, conclui.

Panmela Castro, do Rio de Janeiro

Movimento
Por ser uma arte ligada ao hip hop, afirma Sista Kátia, as atitudes acabam prevalecendo em relação ao diálogo, e diferenças são encaradas “de uma maneira muito mais tranquila”. “É no muro que a gente vê quem é quem: se a menina pinta melhor que dez caras no evento, os dez caras vão rodar”.

Foi Sista Kátia quem criou o movimento Sistas Crew (2007), destinado a meninas grafiteiras com a ideia de promover encontros para, além de grafitar, articular um processo de formação política: “A gente se juntou com uma rede de grafiteiras brasileiras que hoje nem existe mais e fez o Encontro Nacional de Grafiteiras, que durou quatro dias e juntou pelo menos 50 meninas em Salvador”.

Também no intuito de controlar a disparidade entre homens e mulheres no grafite, a artista Panmela Castro criou a Rede Nami, que organiza as grafiteiras e procura oportunidades para elas. “Várias coisas vão limitando a expressão e a convivência da mulher com a rua. Os trabalhos no grafite já são poucos, mesmo para os homens, então o objetivo da Nami é investir para que ambos tenham simplesmente as mesmas chances”, justifica.

Além de mobilizar artistas, a Rede Nami promove debates sobre violência contra a mulher – a própria Panmela foi vítima de abusos em seu primeiro casamento – e procura contar as histórias das vítimas nos muros. As discussões e projetos chegaram a cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Belo Horizonte, Porto Alegre e Salvador, levando oportunidades e conscientização a escolas, praças e paredes.

Kátia reitera a importância de “tornar a rede de grafiteiras algo consequente, não só estético”, que venha de um processo político. Para se ver que, seja simplesmente para se expressar artisticamente, seja para buscar a mudança, “as meninas não só pintam, como também têm opinião formada”.

Documento:Abaixo o Estado de terror contra a Palestina!

POR DIREÇÃO NACIONAL DA UNEGRO
Mais uma vez estamos assistindo ao novo massacre contra o povo palestino. Desde 2007, Israel mantém um violento bloqueio aéreo, terrestre e marítimo na região, e para isso usa a força militar e o controle dos meios de comunicação para perpetrar um verdadeiro genocídio contra o povo palestino. Crianças, idosos, mulheres e a população civil em geral são os alvos dos violentos ataques militares que têm destruído hospitais e casas dos cidadãos de bem. E, para o êxito dessa destruição em massa, o governo de Israel vem pondo abaixo até escolas para aniquilar de vez a resistência palestina. Por isso, precisamos fazer com que a pressão internacional e a mobilização dos movimentos sociais façam os sionistas pararem com mais essa agressão no Oriente Médio. Assim, e no bojo dessas mobilizações, reafirmamos a independência, a autonomia e a soberania do Estado da Palestina, como ficou aprovado na Declaração de Independência da Palestina em 15 de Novembro de 1988 quando a OLP ( Organização para a Libertação da Palestina) obteve apoio para essa causa por mais de 130 países, cujo território compreendia Cisjordânia, Jerusalém Oriental e Gaza. Além disso, nos solidarizamos com a causa palestina e em defesa da paz, exigindo o fim do massacre e pela paz e a autodeterminação dos povos oprimidos do mundo, pois a luta palestina também é uma luta do Movimento Negro, já que os horrores da escravidão e do Holocausto são episódios corriqueiros naquela região, praticados; agora, pelo governo israelense.

1ºEncontro Nacional das Mulheres da UNEGRO
Vitória, 27 de julho de 2014.
www.unegro.org.br.


As griotes da Diáspora Negra. Relato do Latinidades 2014.

As griotes da Diáspora Negra. Relato do Latinidades 2014.
Peço licença à todas as palestrantes e também para o coletivo Pretas Candangas e Griô Produções, responsáveis pela organização do Latinidades, cujos trabalho e atuação são irretocáveis e inspiradores, para falar em primeiro lugar de duas griotes da diáspora negra: Inès Morales e Iradilva Miranda Dantas. A primeira faz parte do MOMUNE (Movimento de Mujeres Negras de la Frontera Norte de Esmeraldas, Equador). A segunda, e não menos importante, é benzedeira/curandeira e membro da Malungu e Coordenadora Estadual das Associações das Comunidades Remanescentes de Quilombo do Pará. São elas que podem, para efeitos desse relato, serem os primeiros testemunhos de tantos momentos políticos e espirituais que tivemos nessa edição do evento.

Falar de Inès Morales é colocar em pauta diversas questões. A primeira delas talvez seja como somos apartadas de nós mesmas e uma das outras, aqui e lá fora. Quantas de nós sabemos que existem outras mulheres negras no Chile, no Equador, na Colômbia e na Argentina, por exemplo, lutando as mesmas batalhas? Quantas de nós fomos e somos separadas por fronteiras arbitrárias que não reconhecemos? Quem estabeleceu ou estabelece tais divisões entre nós? É disso que também fala a luta do MOMUNE, que, além de enfrentar questões ditas clássica de gênero e raça, coloca em xeque sua fronteira com a Colômbia, uma linha imaginária que as separa de suas (e nossas) irmãs afrocolombianas.

Já Iradilva Miranda Dantas também nos fala sobre território, sobre como ele é importante para a manutenção de nossos saberes ancentrais, mais uma vez de como ainda precisamos lutar para que sejam reconhecidos e valorizados. Em sua casinha, como chama o lugar que lhe serve de consultório, atende aproximadamente 60 pessoas por dia, o que demonstra sua vocação e a qualidade do trabalho desenvolvido. Mas para além de números, estamos falando de como a mulher negra pratica medicina num país que não a contempla como paciente e como agente de saúde em potencial e de fato. Que a pratica da curar de nossas benzedeiras em todo Brasil seja reconhecido como patrimônio imaterial e estratégico que é.

Na mesa Letras e Vozes da Diáspora Negra tivemos a presença da professora e ativista pernambucana Inaldete Pinheiro dispensa apresentações. Pesquisadora, foi responsável por denunciar como nossas crianças são representadas na literatura em Racismo e anti-racismo na literatura infanto-juvenil, sendo responsável por aplicar a Lei 10.639 muito antes que ela existisse. Falou também como tantas de nossas estórias são transmitidas por meio da oralidade, falando das famosas estórias de trancoso, aquelas que ouvimos de nossas avós e mães, e tantas vezes dão conta de uma universo fantástico povoado por personagens ancestrais.

Shirley Campell Barr, escritora e ativista costa-riquenha, autora do poema Rotundamente Negra, falou sobre nosso protagonismo, sobre a importância de nossa escrita. testemunhou, num dos momentos mais emocionantes de sua exposição, queescreve porque tem vontade e direito. “Me nego categoricamente a deixar de falar minha língua, meu acento e minha história”. Compartilhou também sua experiência vivendo no Brasil, onde pessoas negras não ocupam os espaços de poder, mando e prestigio.

A literatura erótica também esteve presente com a voz e a pena da jovem e carismática escritora brasileira Nina Silva que falou sobre como nossa sexualidade, usada pela branquitude para objetificar corpos negros, é ferramenta de militância. Somos corpos negros, afeitos às curvas e ao prazer. Nós mulheres, precisamos conhecermos, nos tocar. Acima de tudo, sermos nós as senhoras desse prazer.

Na conferência de Conferência de Abertura, Diálogos Afro-Atlânticos, fomos agraciadas com as presenças de Ana Maria Gonçalves e Paulina Chiziane. A primeira questionou o estereótipo da mulher negra forte. Sim, sabemos que o somos, mas queremos muito mais. Até mesmo para podermos dizer não à tarefa que sempre nos é relegada, de sermos cuidadoras de nós de todos os outros. Que o façamos apenas se o quisermos. A segunda nos trouxe uma discussão interessante de como o cristianismo tem sua origem africana menosprezada, como o protagonismo africano de sua construção é transformada numa manifestação demoníaca. Para a palestrante, não precisamos de uma nova igreja, mas sim nos apropriar mais uma vez daquela que criamos.

No primeiro dia, foi apresentada a performance Quadros com as atrizes Vera Lopes ePâmela Amaro, em comemoração ao centenário da escritora Carolina Maria de Jesus. Esse foi um dos momentos mais emocionantes do festival, quando muitas de nós se emocionaram e choraram juntas. Outro momento de grande emoção se deu com a exibição do curta metragem O Dia de Jerusa, estrelado por Léa Garcia e Débora Marçal. Após a apresentação a diretora, Viviane Ferreira (BA/SP), nos emocionou ainda mais, reafirmando seu compromisso de fazer cinema fiel às questões do universo da mulher negra. Mais do que nunca o pessoal se tornou político.

A oficina de contação de estórias, feita pelas cariocas Sinara Rúbia e Ludmilla Almeidados projetos Ton Ogbon e Grupo Cultural Vozes da África, fez da participação do público sua grande virtude. Tudo começou com a princesa Aláfia, para empoderar e fazer conhecer que somos muito mais que escravizados. Em seguida, audiência foi dividida em grupos e a cada uma coube recontar uma estória fazendo uso de panos, símbolos e instrumentos de percussão. De maneira muito simples e divertida, foi contada por exemplo a estória de Exu, de quem foi prontamente retirado o estigma, dando lugar a uma estória de dualidade, sabedoria, esperteza e humanidade.

Foi durante a mesa Sabedoria ancestral: memória, política e sustentabilidade que a pernambucana Martha Rosa Queirós, Chefe de Gabinete da Fundação Cultural Palmares, nos questionou o protagonismo dos maracatus africanos face ao movimento Mangue Beat, criado no ambiente universitário. Também nos lembrou do Maracatu Nação Leão Coroado Nação Nagô, na pessoa do seu mestre, o senhor Luis de França que permitiu que a mesma tocasse percurssão no grupo, o que abriu o caminho para diversas mulheres.

Já Célia Maria Corsino, Diretora do Departamento de Patrimônio Imaterial do IPHAN, destacou que o patrimônio imaterial tem o mesmo status legal dos tombamentos. Mas tem uma peculiaridade importante, pois reconhece acima de tudo comunidades. Trouxe também um projeto que tem sido discutido na instituição, que versa sobre os mestres populares do saber. Está previsto que eles obtenham a mesma titulação que aqueles reconhecidos pela academia, recebendo inclusive bolsa equivalente à titulação para desenvolver seus projetos e formar aprendizes.

Heloisa Pires Lima, educadora, escritora e editora sediada em São Paulo, trouxe um vívido exemplo de como a oralidade, a proximidade das estórias xona sobre a figura de Njuzu, senhora das águas, com uma lenda contada da Amazônia. Junto com conosco, povos escravizados pelo europeu, viajaram significados e saberes que podem nos ajudar a reconstruir nossos elos perdidos com a África. Em sua fala, o convite: “quer mergulhar nessas águas” de conhecimento e ancestralidade?

Débora Marçal, atriz da companhia paulista Capulanas, participou da mesa Territórios Negros: fontes de sabedoria ancestral e falou sobre a trajetória do grupo e a apropriação do quintal como território negro. Contou também sobre a decisão de escrever sobre o grupo antes que alguém o fizesse, na conquista em ter o espaço para que o grupo desenvolvesse suas atividades. Ao final de sua fala, nos emocionou com seu canto na companhia das demais atrizes da companhia.

A engenheira florestal e ativista do MNU Minas Gerais, Angela Gomes, apresentou sua tese de doutorado, Territórios da Etnobotânica: Terreiros, Quilombos, Quintais. Nesse estudo reconheceu mais de 500 espécies trazidas do continente, com destaque para 80 plantas.Nos fez questionar que, acima de tudo, o tráfico de negros para a América tinha como um dos seus pilares a transferência de saberes e tecnologias ambientais, ainda hoje desprezados pela academia mas preservados pelos terreiros e pela cultura popular.

Esse é um post que não termina aqui mas é o momento apropriado para reverenciar as irmãs Pretas Candangas e a Griô Produções. Mulheres negras de luta que concretizaram aquilo que antes era apenas uma sonho para muitas. Uma possibilidade que agora é uma realidade palpável de mudança e empoderamento. Durante esses dias tivemos amor, compartilhamos lutas e projetos. Mais uma vez possibilidades que, como disse uma companheira, falam de uma ancestralidade nova e ao mesmo tempo antiga. Obrigada a todas as mulheres da organização, palestrantes e da audiência. Essa é uma experiência de vida que será por nós sempre lembrada com todo carinho e afeto.

Charô Nunes
Olá, meu nome é Charô, escrevo sobre cultura e sociedade no blog Indigestivos Oneirophanta.

O pensar musicado de Criolo

Em entrevista exclusiva, o compositor reflete sobre as manifestações recentes e sobre a sua produção musicalpor: *Marcus Preto é jornalista
Fotos: Patricia Araujo
publicado: Revista Cult

O papo é reto, mas vem por linhas sempre tortuosas e inesperadas. Kleber Cavalcante Gomes, 38 anos – conhecido artisticamente como Criolo – não poupa o interlocutor. Faz questão de tirá-lo da zona de conforto, do raciocínio convencional, da discussão viciada. É assim quando canta e é assim quando fala, como se pode notar na entrevista a seguir.

Alguém pode argumentar que isso é coisa de quem está enfeitiçado com o sucesso recente, que lhe subiu à cabeça. Não. Criolo já era desse jeitinho na entrevista que eu mesmo fiz com ele semanas antes do estouro, às vésperas do lançamento de Nó na orelha (2011), álbum que o revelou para além do universo do rap.

A história ficou bem conhecida. Após duas décadas dedicadas ao rap, Criolo Doido (como assinava então) decidiu que estava na hora de parar com a música. Mas tinha algumas canções – não apenas rap, mas também samba, bolero, balada. O baixista Marcelo Cabral ficou maravilhado com o material e, junto com Daniel Ganjaman (do coletivo Instituto), produziu as faixas. E aquele que seria o canto do cisne de Kleber Gomes na música se tornou o começo de uma história.

Criolo e seu Nó na orelha acabaram por criar uma ponte entre o rap e outras facções da música popular brasileira. Caetano Veloso, Chico Buarque, Milton Nascimento e Ney Matogrosso, para falar apenas nos medalhões, se interessaram por sua música. Mais do que isso: misturaram-se a ele, cada um ao seu modo.

A música “Não existe amor em SP” poderia ter se tornado um hino das manifestações políticas recentes, mas extrapolou esse status. Quase como um organismo racional, ajudou a organizar as ideias e intenções que essas mesmas manifestações teriam. Fez que se levantasse a questão fundamental: por que não existe amor em SP? Ou no Rio? Ou em Brasília? Ou em qualquer canto do Brasil? Que tal mudar isso tudo?

Mais do que dar as respostas, Criolo ilumina as questões.

CULT – A canção “Não existe amor em SP” acabou por se tornar um hino. Ela também provocou reações nas pessoas, e muitas quiseram provar que “existe, sim, amor em SP”.

Criolo – Olha, eu acredito que em cada lugar tem alguém com coração. Para cada mil sem coração, existe um com coração. E esse um tem o poder de dar a redenção para os outros mil. Não estou falando desse coração romântico. Falo de alguém que se permite viver, sofrer, enxergar o sofrimento do viver e a beleza que é respirar. Então, acredito que chegou o momento em que essas pessoas se encontraram. Sou apenas mais uma dessas pessoas, mesmo que ainda capenga, mesmo que ainda cheio de situações a serem vistas e revistas. Assim como é cada poeta. É da essência das pessoas querer contribuir, querer fazer parte de algo sem exigir qualquer luz de protagonismo. Já ouviu falar naquele lance de que uma andorinha não faz verão? A andorinha não tem nome, é a espécie. Assim somos nós.

Mas, no caso de “Não existe amor em SP”, essa andorinha fez muito verão. Virou um símbolo, puxou toda uma revoada para junto dela.

Quando você vê os pássaros no ar, tem a impressão de que é um triângulo, de que um está na frente dos outros. Não. Quando o primeiro se cansa, vai lá para trás e vem outro ocupar a dianteira. É muita ingenuidade do poeta, ou do marceneiro, achar que aquilo que ele criou e dividiu com o mundo ainda é ele.

Como você entendeu as manifestações recentes? Penso que esse tempo que nos separa delas é importante na avaliação, porque, no calor da hora, tudo era confuso demais. E o que valia na véspera soava como um equívoco completo no dia seguinte.

É. É o organismo vivo. Você está lidando com pessoas, desejos, frustração, esperança. E ninguém ainda achou o ovo de Colombo do pensar humano. Mas o que acontece agora é algo inédito. As pessoas acham confuso, mas o que está acontecendo é o mais límpido possível.

Límpido? Por quê?

Sim! Porque todo mundo está falando. Não é mais só uma pessoa falando e uma massa humana assinando embaixo. Nessa massa humana, cada um está falando de suas questões. Para mim, isso não é confuso. Deixa a situação mais límpida. A gente está acostumado com aquele lance de saber quem é o cabeça, qual a fala, a frase. Agora, todo mundo está falando. Todo mundo está pondo a sua frase. Cada um com sua vivência, sob sua ótica. Uns entendendo, outros nem tanto. Mas, independentemente disso, e antes de querer tirar a força do que aconteceu no Brasil nesses últimos meses, é preciso entender que, de uma forma ou de outra, todos se movimentaram. E só isso já é fato para entrar nos livros de história. Não precisa de enfeites.

Enfeites?

É. Porque a história exige enfeites. Mais do que um barroco, existe uma necessidade de um rococó para justificar determinadas situações. E o que aconteceu foi justamente a mão na madeira para se fazer o móvel, a mão no barro para se fazer a escultura. Então, há de se valorizar essa situação e as instâncias de roda de conversa em um botequim, em uma biqueira, em uma casa de família, em uma repartição pública ou em um gabinete. Não podemos tirar a força do que aconteceu. As canções e os poemas viram mero detalhe quando você vê o jovem indo para a rua. Ele é a canção, a poesia, a força de um país. Você vê uma pessoa falando: “saia daqui que eu não gosto de você”. Quer mais sinceridade do que isso? Eu já havia dito isso, e o rap nacional já diz há 30 anos: não subestime a nossa juventude, não rotule a nossa juventude. Porque a juventude é livre, despida de determinados protocolos. E as pessoas se conhecem e se conectam por afinidade.



O modo como o governo lidou com o que aconteceu nas ruas foi adequado?

Quem sou eu para falar do governo, eu que não sou letrado?

Quem disse que precisa ser letrado para falar do governo?

O sistema disse.

Precisamos obedecer ao sistema?

A gente depende dele. Vai falar para um garoto que mora lá no meu bairro se, na hora de entregar um currículo, ele não tem que ter o segundo grau e falar duas línguas para ser um simples limpador de rua. Não venha com essa, não, porque isso é coisa de quem não precisa de dinheiro. Que pode se dar ao deleite. Maquiavel é um cara de sacada. Mal sabia ele que seria um divisor de águas. Porque quando eu procurava emprego (porque agora eu sou vagabundo de carteira assinada), eu implorava. Não tinha o segundo grau completo. Quando tinha o segundo grau completo, eu implorava porque não tinha o nível universitário. Aí, depois, eu implorava porque eu não sabia inglês e espanhol. Olha que jogo bonito. Olha que interessante. Porque eu cresço quando a Dona Vilani, minha mãe, me faz uma tapioca de manhã.
Você foi um dos primeiros artistas a fazer uma ponte entre o universo real do rap e os outros gêneros musicais, as outras classes sociais e os outros ouvidos e corações.
É muito simples. Se cada uma dessas pessoas pensarem na cor azul, todos iremos pensar na cor azul, mas cada um em sua nuance de azul. É só isso. O verbo é falho. Clarice [Lispector] já tinha gritado isso. Você já observou um jardim? O que é um jardim pra você? Já reparou que é a mão do homem moldando a natureza ao seu bel prazer? Todos os dias nós nos moldamos. Com ou sem querer. Não existe resposta para o seu questionamento porque não existe resposta para a vida. Apenas vivemos. E, nesse balbucio entre alma e carcaça, tentamos fazer o melhor que podemos fazer.

Você se vê nesse papel de ponte?
Eu? Vou repetir o que lhe falei três anos atrás: sou o equívoco, mas um equívoco com reticências.

Por que um equívoco?

Meu berço é o rap, sou filho de preto nordestino. Filho de benzedeira que, com 50 anos de idade, se formou em Filosofia. E eu digo que ela é filósofa não pelo diploma. Ninguém é filósofo porque fez Filosofia. Ela é filósofa porque sabe viver a vida. Por si só, todo mundo é um filósofo. Dona Vilani me ensinou isso. É a potencialidade humana. Os quereres, as inteligências, sobretudo as potencialidades. O problema são as potencialidades. Quando as descubro, não sei o que faço. E quando faço, me questiono. O grande lance é se questionar. Porque é tudo muito frágil. O pensar é frágil. O devaneio é forte. Eu sou filho de um senhor que foi metalúrgico a vida toda. E de uma senhora que foi rodomoça, servia cafezinho nas viagens de ônibus. Depois, foi empregada doméstica no Rio de Janeiro. Depois, lavadeira. E, com 40 anos de idade, voltou a estudar. E era benzedeira do bairro por mais de dez anos. E hoje tem mais de oito títulos. Então, essa incógnita já existe no seio de minha família há muitos anos.

E você?

Eu sou o mais fraquinho da turma. Cresci em um ambiente extremamente hostil, no extremo sul da Zona Sul da cidade de São Paulo. Vi gente morrer na minha frente, de morte matada. Vi amigos me estenderem a mão em um pronto-socorro do meu bairro – eu sabendo que a pessoa ia morrer. Precisei de hospital público e não tive. Senti dor, passei fome. Mas lhe digo isso com coração aberto, não para glamourizar uma história. Eu lhe digo isso para implorar às nossas autoridades que não deixem isso acontecer.

Você acha que a situação está melhorando?

Não. Nós nunca vamos ter o número real de quantas pessoas são assassinadas. Nós nunca vamos ter o número real de quantos pais de família perderam seus empregos. Nós nunca vamos ter o número real de nada. Porque saber das coisas é um poder absurdo. Por isso que nossa juventude está na rua. Meu amigo, você pode assassinar uma pessoa dando um tiro na cabeça dela. Mas também pode assassinar uma pessoa acabando com toda a sua ideologia.





Você considera que seu primeiro disco foi devidamente compreendido?

Eu não tenho a pretensão de que as pessoas me compreendam. Isso aí é se achar demais. Meu desejo é dividir o meu pensar. Isso para mim já é tudo. O que vai acontecer é da natureza. Meu desejo é que as pessoas me permitam esse processo de comunicação – que nem sempre é comunicação, porque eu me expressar não significa que eu me comuniquei.

Eu tenho a impressão que você cria essa comunicação não apenas com as ferramentas lógicas e racionais, mas também por meio da intuição. Uma comunicação entre o seu inconsciente e o das pessoas.

Acredito que exista intuição. Mas também existe o sol quando bate na sua pele. Você sente o calor. Do mesmo jeito que existe dor quando um cassetete lhe pega a costela. Existe intuição e existe reação. Não no sentido de um rancor, mas no sentido de dar a volta por cima. Sou filho de cearenses que fugiram, no início da década de 70, da seca e da fome. Chegaram aqui em plena ditadura e foram morar em um porão. Existe, então, viver a sua realidade em sua cidade. Existe você envelhecer em sua cidade. E existe tentar compreender o porquê de algumas coisas, embora a gente nunca vá saber, porque é a mesma coisa que achar a galinha dos ovos de ouro. Somos não sei quantos bilhões na nossa espécie e sabemos também que são de cinco a dez corporações que mandam no planeta. E eu vou morrer, meu neto e meu bisneto vão morrer, e isso não vai mudar. Ou será que vai mudar? Mas o que é que muda? E quem muda? É a mesma coisa que você reclamar do tempo sobre suas rugas. O tempo está parado, é você que passa.

O disco novo está pronto?
Não.
Mas está bem encaminhado? Ou ainda está na sua cabeça?
Muita coisa na cabeça. E muita coisa na mente. Porque eu acho que “cabeça” e “mente” são compartimentos diferentes no mesmo espaço físico. Na mente, talvez pelo processo de ainda mastigar algumas coisas. E, na cabeça, com algumas coisas já mastigadas, outras por mastigar e outras que iremos cuspir. Muita coisa na cabeça: as canções antigas do Ainda há tempo[álbum de estreia], do Nó na orelha, e as canções que _z de três anos para cá. E sempre me perguntando: “Será que realmente existe a necessidade. De quem é a necessidade de outro disco?”

Não é uma necessidade sua?
Eu tenho vontade de dividir o meu pensar. E o meu pensar vem musicado. Mas o que isso representa para tudo o que está em torno da música? Para tudo o que está em torno de quem vive música e de quem trabalha com música? Aí, é outra questão. Eu tenho o desejo de dividir o meu pensar. Enxergar um artista em um CD é muito pouco. Para cada compositor, para cada músico, para o vocalista existe um universo. Um universo que gira em torno desse ser. E ele, por si só, já é outro universo.

Você criou uma relação, inclusive afetiva, com outros nomes que fizeram a história da música e da sociedade brasileira, como Milton Nascimento e Caetano Veloso. Como essa relação se dá?

São pessoas extremamente generosas, inteligentes, doces. A sensibilidade fez com que eles passassem por décadas, e todas as gerações, de um jeito ou de outro, não perdem contato com eles. Eu sempre procuro preservar o pouquinho de colegas que tenho. Fico na minha. Olha, cara, vou te falar um lance: estou tentando entender o que está acontecendo. Que maravilhoso isso das pessoas me darem a oportunidade de eu me manifestar. Porque é o povo que põe a comida na minha mesa. Porque, até então, com 30 anos de idade, eu vivia dependendo da minha mãe e do meu pai. Por isso que eu fiz [canta]: “Eu não tenho casa/ Eu moro em casa de mãe”. Por isso eu fiz: “Às quatro da manhã ele acordou / Tomou café sem pão e foi à rua por o bloco pra desfilar / Atravessou o morro”. E eu não estou falando só de dinheiro.

Graças a sua visibilidade, outros artistas ligados a você também se tornaram mais visíveis, como foi o caso de Kiko Dinucci, Pagode da 27, Rodrigo Campos…
[interrompendo] O Rodrigo Campos. Eu queria deixar sublinhado isso. Que saia na matéria. O Rodrigo Campos é de uma elegância pungente. Mas eu também queria sublinhar aqui um cara muito especial que eu tenho guardado no meu coração. E que é um grande artista: o [saxofonista] Thiago França. Ele ultrapassou a barreira do instrumento. O Thiago França por si só é um instrumento.


O Thiago já estava com você no começo dessa transformação, quando você decidiu que ia parar de fazer música e registrar um disco de canções, por brincadeira…
Ele é maravilhoso! Marcelo Cabral, esplendoroso. Daniel Ganjaman é esplendoroso. Eu tenho o luxo de andar com esses caras. Tem o Mauricio, fundador do Mestre Ambrósio. Quando eu subo no palco e faço referência a esses caras, tem gente que acha que eu estou fazendo média. Mas é porque não conhece a história de vida de cada um deles. Do mesmo jeito que eu falei que sou café com leite lá em casa, eu sou café com leite quando subo no palco. Eu tenho o [guitarrista] Guilherme Held, que é pupilo do Lanny Gordin [guitarrista dos discos tropicalistas]. O negócio é pesado. Estou falando de Lanny Gordin! E você sabe muito bem quem é Lanny Gordin e sua importância.

Quem mais?

Kiko Dinucci é um dos grandes escritores de nossa geração. E, ao mesmo tempo que Chico [Buarque] me acena, Mano Brown está no meu DVD. Pô, cara, eu peço desculpa então se está todo mundo errado. Mas, ao mesmo tempo, eu não quero glamourizar isso. Eu não quero paetês.

Sua mãe é benzedeira. Tem um Deus aí envolvido. Como ele chega a você?
Tem um Deus. Mas e se for com outro nome? E se fosse pedra? E se fosse luz? E se fosse gelo? Minha guerra já está comigo, é interna: [canta] “Pare de correr pra aprender a andar/ Eu falei demais / Pare de falar pra poder dizer / Que eu cuspi no amor / Pra depois de amor vir a padecer / Eu reclamei demais e aprendi a viver depois que morri / E fui pro inferno bater um papo com o cão / Onde ele disse que não era pra eu estar ali / Mas como assim, então? / Gelo no inferno eu colhi / E corri / Corri demais”. É uma dízima periódica, porque a vida é isso. Nossos questionamentos são dízimas periódicas porque fazem parte da essência da fome da alma humana. Se é que o humano tem alma. Porque nós somos uma espécie no meio de 300 milhões de espécies e estamos acabando com tudo. Será que a gente tem alma? Por isso que digo que dessa ponte que você disse que eu construí, eu estou na água. Mergulhei e tenho inveja dos peixes.

segunda-feira, 28 de julho de 2014

Fora do mapa: documentário levanta debate sobre marginalização das favelas

publicado: revista Fórum

Filme mostra que cada mapa representa muito mais do que uma cartografia geográfica de um determinado local, possuindo uma história social e política, um discurso
Moradores das favelas do Rio de Janeiro afirmam que o governo do estado teria solicitado à empresa Google Maps a retirada do nome “favela” do mapa, causando indignação nos moradores, que se sentiram ainda mais diminuídos e excluídos da sociedade. Tal iniciativa implicaria que as favelas e suas comunidades seriam invisíveis, não apenas para o Estado, mas para o resto do mundo. Diante desses questionamentos e reivindicações é que foi desenvolvido o documentário “Todo mapa tem seu discurso”, realizado pela Rede Jovem e dirigido por Francine Albernaz e Thaís Inácio.

Segundo os realizadores do documentário, a ideia surgiu quando o projeto “Wikimapa”, um aplicativo que promove o mapeamento das favelas de forma colaborativa com os moradores, começou a ganhar popularidade na comunidade e entre turistas que iam visitar as favelas.

Durante o filme, moradores das comunidades Cidade de Deus, Capão Redondo, Favela da Maré, entre outras, falam sobre a vida cotidiana nas favelas e verbalizam a indignação de serem tratados como uma população invisível, ao ponto de não constarem no mapa oficial da sua própria cidade.

Depoimentos como o de Dálcio Marinho, geógrafo do Observatório de Favelas, afirma que o fato de não constar no mapa implica problemas políticos, econômicos e sociais em grande proporção. Ele declara que quando a favela não consta no mapa da cidade não há como se destinarem os devidos recursos financeiros, pois não se tem dimensão real do tamanho geográfico dessas áreas e tampouco sobre as adversidades sofridas pelos moradores.

A obra se destaca pela iniciativa de tentar desmistificar a ideia de que o mapa seja apenas um objeto simbólico, uma simples ferramenta de localização. O filme mostra que cada mapa representa muito mais do que uma cartografia geográfica de um determinado local; cada mapa possui uma história social e política, um discurso. Os questionamentos e reivindicações afloradas durante o filme servem de base para reflexões e debates sobre a exclusão social das favelas.
Para assistir o trailer do documentário acesse:

Angela Davis critica ausência de negros no poder e na televisão no Brasil

publicado: agencia Brasil
A filósofa, escritora, professora e ativista norte-americana Angela Davis criticou hoje (25) a ausência de negros nos espaços de poder e nos meios de comunicação no Brasil. "Não posso falar com autoridade no Brasil, mas às vezes não é preciso ser especialista para perceber que alguma coisa está errada em um país cuja maioria é negra e a representação é majoritariamente branca", disse. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mais da metade da população brasileira (50,7%) é negra.

Angela Davis integrou o grupo Panteras Negras e o Partido Comunista dos Estados Unidos e chegou a constar na lista dos dez fugitivos mais procurados pelo FBI (agência federal de investigação dos Estados Unidos). Ela foi presa na década de 1970 e inspirou a campanha Libertem Angela Davis, que angariou apoiadores em todo o mundo.

Apesar da constatação, Angela fez um alerta: "Não significa somente trazer pessoas negras para a esfera do poder, mas garantir que essas pessoas vão romper com os espaços de poder e não simplesmente se encaixar nesses espaços". A ativista citou o caso dos Estados Unidos, em que houve época em que não havia político negro e que atualmente é presidido por um negro, Barack Obama. "O que mudou?", perguntou, sem responder. "Quantos senadores negros há no Brasil? Se olharmos para o Senado não saberíamos que os negros constituem mais de 50% da população brasileira", disse, em participação no Festival Latinidades 2014: Griôs da Diáspora Negra. "Sempre assisto TV no Brasil para ver como o país se representa e a TV brasileira nunca permitiu que se pensasse que a população é majoritariamente negra".

Angela voltou a comentar o conflito na Faixa de Gaza, entre Israel e Palestina. "Temos que reconhecer Israel como único Estado colonizador do século 21 que continua a se expandir. Da mesma forma que desafiamos o apartheid [na África do Sul], temos que lutar contra oapartheid israelense. Vidas de crianças estão sendo destruídas em Gaza", disse. "Temos que expressar nossa solidariedade ao povo da Palestina”.

Pesquisadora relaciona cantoras de samba a lutas do movimento de mulheres negras

publicado: Agência Brasil

A luta atual das mulheres negras contra o racismo e o sexismo deve levar em conta o que foi conquistado ao longo do tempo por outras mulheres negras ativistas, defendeu hoje (25) a coordenadora da organização não governamental (ONG) Criola, médica e doutora em Comunicação e Cultura, Jurema Werneck.

Chamadas de ialodês, essas mulheres, segundo Jurema, sempre existiram e transcendem o chamado feminismo negro – protagonizado por mulheres negras. "Hoje está difícil, mas não se compara", disse, ressaltando que chegou ao doutorado, mas a avó dela era analfabeta e a mãe estudou apenas até o ensino fundamental.

Segundo Jurema, a luta de mulheres negras sempre existiu e as demandas foram se transformando. Nos anos 1930, 1940 e 1950, as lutas eram por educação, creches, demandas do Estado. A geração posterior, a dela, deu continuidade a essas reivindicações e conquistou leis que garantiram a igualdade de direitos. Agora, na avaliação da coordenadora, é preciso continuar lutando para que essas normas conquistadas sejam cumpridas. "O racismo não desaparece por decreto, desaparece na luta cotidiana", argumentou.

Mulheres participam das celebrações do Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, durante o Festival Latinidades Edição 2014 – Griôs da Diáspora Negra Antônio Cruz/Agência Brasil
No doutorado, a pesquisadora buscou no samba referências de luta de mulheres negras. Alcione, Elza Soares, Leci Brandão, Jovelina Pérola Negra e Mart'nalia foram algumas das citadas por ela em conferência no Festival Latinidades 2014: Griôs da Diáspora Negra. "Se se pensar em nome de mulher negra que não é anônima, vai-se pensar em nomes que estão na cultura popular", disse. "Se o racismo é essa coisa horrível, imagina a conquista dessas mulheres para aparecerem na cena pública", comparou.

Uma a uma, Jurema destacou na obra e na vida das sambistas aspectos que enalteciam a mulher negra e mostravam o contexto em que estavam inseridas. Elza Soares, por exemplo, surgiu como cantora em um show de calouros do programa de Ary Barroso na Rádio Tupi. Ela cantou para conseguir dinheiro para alimentar o filho e deixou claro “o planeta do qual vinha: o planeta fome”

"Se forem ler uma entrevista com a Elza Soares, todo mundo quer que ela conte essa história e sempre dizem em seguida, 'apesar disso, ela tem força, foi longe'. Como se o problema estivesse resolvido e só ela tivesse nascido neste contexto. Tentam isolar ela da comunidade, mas todo mundo sabe que têm pessoas que tem esta carga de desafios", diz Jurema.

De Alcione, ela destaca as letras, que falam para mulheres. Jovelina Pérola Negra colocou o próprio rosto em close, sem maquiagem e com um pano na cabeça na capa do primeiro disco, com o próprio nome. "Com quem se parece? Com minha tia, minha mãe, minha vizinha", explicou a pesquisadora. Segundo ela, a intenção de Jovelina foi mostrar que cada uma dessas mulheres é como ela, uma pérola negra.