terça-feira, 26 de maio de 2015

publicado: uol.com.br
Nova garota do tempo do "Jornal Nacional", Maria Júlia Coutinho – ou simplesmente Maju – tem se destacado no periódico. A primeira jornalista negra da Globo na função corrigiu o âncora William Bonner quando ele perguntou a ela se o tempo estaria "bom", e ainda passou a ser chamada de Maju por ele no ar, surpreendendo muitos espectadores.

Maju estreou na função de moça do tempo no "Bom Dia São Paulo" e "Bom Dia Brasil", durante a licença maternidade da colega Eliana Marques. E nesta quarta-feira (27), ela completa um mês no "JN", satisfeita por poder informar com um pouco de informalidade – uma marca da nova versão do jornalístico. "Acho que tenho conseguido colocar em prática aquilo que sempre acreditei: informar usando uma linguagem mais coloquial. Creio que estou conseguindo usar a informalidade, sem abusar dela. A maior parte do retorno que recebo é positiva", contou em entrevista por e-mail ao UOL.

O caminho mais informal seguido pelo "Jornal Nacional", que agora deixou os âncoras William Bonner e Renata Vasconcellos mais soltos e com liberdade para caminhar no cenário, é aprovado por Maju, que inclui expressões como "chuvica" ao dar as notícias do tempo. "Acho que isso humaniza nossa relação com os telespectadores. Esse tipo de atitude tira aquele ar de donos da verdade, profissionais sisudos, que nunca erram, que alguns jornalistas insistem em cultivar", opinou.

Primeira moça do tempo negra na Globo
Carregar o título de "primeira moça do tempo negra da Globo" tem seu peso, mas Maria Júlia revelou que está feliz por estar sendo vista cada vez mais apenas por sua profissão – sem o rótulo que a acompanha.
Tenho sido tratada como Maria Júlia Coutinho, a Maju, a jornalista, e ponto. É assim que deve ser, pois ninguém se refere ao Bonner como o jornalista branco de cabelos grisalhos, nem à Renata [Vasconcellos] como a jornalista de cabelos castanhos e pela claraMaria Júlia Coutinho, ao UOL
"É um marco importante, mas ao mesmo tempo é complicado carregar o peso de ser a primeira a fazer algo em determinado lugar", afirmou Maju. "Acho que isso ocorre porque ainda faltam representantes negros no telejornalismo. Porém, tenho ficado feliz, pois, de uns tempos para cá, minha cor tem ficado invisível na maioria das entrevistas que estou dando. Tenho sido tratada como Maria Júlia Coutinho, a Maju, a jornalista, e ponto. É assim que deve ser, pois ninguém se refere ao Bonner como o jornalista branco de cabelos grisalhos, nem à Renata [Vasconcellos] como a jornalista de cabelos castanhos e pela clara".
Vítima de alguns ataques racistas nas redes sociais desde a sua estreia no "Jornal Nacional", a jornalista não pretende tomar providências legais contra os comentaristas por enquanto. "Pelo que eu vi é uma minoria que tem feito esse tipo de ataque. Vou plagiar a pequena Carolina, de 8 anos, cujo vídeo viralizou na Internet. Quando alguém disse que ela tinha cabelo duro, Carol não titubeou e disse: 'Duro é ter que aguentar pessoa ignorante falando que meu cabelo é duro'. Cresci numa família que militou no movimento negro, tenho consciência dos meus direitos, só tomarei alguma medida quando o racismo de alguém cercear meus direitos".
Divulgação/Globo/Zé Paulo Cardeal
Adepta das redes sociais, Maju trouxe a linguagem que usa com seus seguidores para o jornal

Sem lembrar se já sofreu racismo no trabalho, Maju acredita que a maior presença de negros na TV "é um caminho sem volta" e que os pré-julgamentos no ambiente profissional costumam ir embora com a convivência. "Acho que algumas pessoas que só estão acostumadas a conviver com negros que ocupam cargos de seguranças, empregados, faxineiros, se assustam, e, às vezes, duvidam da capacidade de um negro que ocupa um outro tipo de função (jornalista, médico, escritor), mas esse tipo de preconceito costuma ser neutralizado com a convivência".

Tempo bom ou tempo firme?
Bem recebida pelo público, a forma mais coloquial e mais simples com que Maju fala sobre o tempo é fruto da interação dela com os seguidores em suas redes sociais, às quais recorreu para não perder o contato com os telespectadores quando deixou as reportagens na rua e assumiu o cargo de moça do tempo. "Pude testar, através da Internet, maneiras diferentes de falar sobre o tempo. Durante um ano, publiquei quase diariamente posts com a previsão do tempo usando uma linguagem mais descontraída. Usei na TV muitas das expressões aprovadas pelo público na minha rede social", disse ela, que tem mais de 8 mil seguidores no Twitter e mais de 5 mil no Instagram.

Mas a informalidade não deixa a informação menos correta. E Maju surpreendeu muitos espectadores quando corrigiu ao vivo William Bonner, ressaltando o tempo "firme" em vez do "bom". Na opinião da jornalista, a repercussão do caso "exagerada". "Não houve uma correção. A questão é a seguinte: a primeira coisa que um jornalista que vai lidar com a meteorologia aprende é que o conceito de tempo bom e tempo ruim é relativo. Pra moça que quer pegar um bronze, 'tempo bom' é sol. Pra quem precisa que o Sistema Cantareira se recupere, o tempo chuvoso é que é bom. Essa relatividade está tão internalizada em mim, que foi automático eu responder aquilo para o Bonner".
"Talvez essa ideia do tempo bom ainda estar relacionado ao tempo quente e firme tenha a ver com as coisas prazerosas que a gente costuma fazer quando não chove: ir à praia, ao parque, caminhar, andar de bicicleta", completou.

Com um posto de destaque na televisão brasileira, Maria Júlia ainda tem muitos planos para seu futuro profissional. "Vixe, tenho muitos sonhos. Não vou fechar em apenas um. O Tempo dirá o que vai rolar na minha carreira"

sábado, 23 de maio de 2015

A igualdade racial no Brasil é tema de seminário na Seccional

O mito de que no Brasil não há racismo foi amplamento debatido na manhã desta sexta-feira (22), na abertura do evento Desafios da Promoção de Igualdade Racial no Século XXI, promovido pela Comissão de Igualdade Racial e de Gênero da OAB Paraná. O evento teve a presença do reitor da Universidade Zumbi dos Palmares, José Vicente da Silva; da primeira desembargadora negra do Brasil, Luislinda Dias de Valois Santos, e do professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Nizan Pereira. 
O evento tem transmissão ao vivo para todo o Paraná pelo blog do Esmael (www.esmaelmorais.com.br), pela TV 15 e pelo blog do Wilson Vieira (http://www.blogwilsonvieira.com.br/). 
Na abertura do evento, o presidente da OAB Paraná, Juliano Breda, afirmou que o seminário configura um momento histórico na OAB Paraná que, além de ter criado a comissão de Igualdade Racial, se tornou um palco para discutir a desigualdade racial e a discriminação. “Sabemos que, materialmente, o país, a sociedade, busca a concretização de uma igualdade ética- racial. É preciso combater o discurso de que no Brasil não há racismo. É preciso discutir porque há sim preconceito, discriminação e desigualdade”, afirmou Breda, lembrando ainda o alto índice de negros assassinados confirmado por estudos, a hiposuficiência econômica, e a falta de outros direitos fundamentais. “Espero que a OAB possa contribuir para uma sociedade plural. Instituir este debate de forma permanente, e que o tema esteja nas pautas de discussões”, disse o presidente da Seccional. 

O advogado André Luiz Nunes da Silva, que representou o prefeito Gustavo Fruet na solenidade, expressou sua satisfação em estar na sede da OAB para discutir e ampliar com a sociedade curitibana a discussão sobre igualdade racial. 

A promotora de Justiça do Núcleo de Promoção da Igualdade Étnico-Racial (NUPIER) do Ministério Público do Paraná (MP-PR), Mariana Seifert Bazzo, reforçou a necessidade de combater o mito de que não há racismo dentro do Direito, pois isto é evidenciado nas práticas diárias dos operadores de Direito, advogados, juízes, promotores, policiais. “As estatísticas não colaboram pra mostrar o problema da discriminação e vemos três motivos principais: as vítimas de racismo não fazem registro, é frequente a polícia colocar como crime comum e não crime de racismo no boletim de ocorrência (BO) e apenas 5% dos B.Os. Registrados corretamente chegam ao MP. Estatística deformada impede que políticas públicas sejam implementadas”, afirmou a promotora. 

O médico Nizan Pereira elogiou a gestão democrática e ousada do presidente Juliano Breda na OAB Paraná, por abrir espaço para criação da primeira comissão da Seccional de Igualdade Racial e apoiar a realização do evento. “É um presidente que tem se distinguido pela ousadia e disposição na atuação da OAB. Abriu este espaço, essa mesa de bando de negros, porque é assim que quero me referir e é assim que vamos caminhando quebrando protocolos, como um bando de negros”, afirmou Nizan Pereira. 

A representante do Conselho Estadual de Promoção e Igualdade Racial, Brinssam Ferreira N'tchalá também destacou a abertura da Ordem para tratar de questões éticas e mudanças estruturais, “pois o processo de exclusão e inacesso aos direitos mais básicos que os negros sofrem é uma realidade. Com as políticas afirmativas criadas para os euro-descendentes em detrimento da raça negra esperavam que em 2001 não haveria mais negros no Brasil. Mas estamos aqui, resisitindo. Mas queremos também existir, não só resistir”, afirmou N'tchalá, estudante de Direito.

Já o professor Denilton Laurindo, do Conselho Municipal de Políticas Étcio-Racial, que também compôs a mesa de abertura, disse que o racismo é um sistema institucional, estrutural e sofisticado. “Ele consegue ultrapassar a religiosidade, a luta de classe e legitima uma exclusão por causa da cor da pele. O direito de igualdade não procede neste país”, salientou. 

O presidente da Comissão da Seccional, Mesael Caetano dos Santos, ainda lembrou que de todos os países que aboliram a escravidão, o Brasil está 126 anos atrasados. “A escrevidão deixou profundas marcas na sociedade brasileira. Como operadores de Direito vamos buscar fazer com que os princípios de igualdade previstos na Constituição se tornem realizadade”, afirmou. 

publicado: www.oabpr.com.br

terça-feira, 5 de maio de 2015

Sem Patrocínio,sem bolsa atleta. E ainda assim, medalha de ouro na Copa do Mundo de Ginástica


publicado-uol.com.br
Faltavam duas semanas para a etapa da Copa do Mundo de ginástica em São Paulo, quando Ângelo Assumpção, de 18 anos, recebeu uma ligação para avisá-lo de que ele poderia disputar a competição - realizada no último final de semana - em casa.
É que o ginasta Arthur Nory Mariano está lesionado e foi cortado da seleção de última hora. Ângelo não desperdiçou a oportunidade, chegou às finais das duas provas que disputou – salto e solo – e conquistou o ouro em uma delas (salto) no último sábado, o primeiro de sua carreira em Copas do Mundo.

"A gente sempre imagina que pode conseguir o ouro, não é uma surpresa porque eu estava treinando muito para conseguir esse salto e essa medalha, estou tentando há três Copas. Acho que consegui substituir o Nory bem", disse.

A medalha foi ainda mais especial por ter sido conquistada ao lado de Diego Hypolito, ídolo de Ângelo na infância. O jovem ginasta, que começou a treinar aos 6 anos de idade enfrentando uma maratona para conciliar esporte e estudos conta que, em 2005, na última etapa da Copa do Mundo que havia sido sediada em São Paulo, ele chegou a 'tietar' o então campeão mundial Diego Hypolito.

"É engraçado porque em 2005, eu vim aqui, fui pedir autógrafo, tirar foto, consegui da Daiane (dos Santos), mas quando fui tirar foto com ele, ele saiu correndo, acho que teve que ir embora", contou, rindo. "Hoje ele pede pra tirar foto comigo, a gente tira foto junto..."

"É uma honra poder competir com ele, é uma inspiração, porque quando eu vim pra cá assisti-lo, eu não sonhava que um dia eu estaria do lado dele, competindo."
Ângelo teve a nota de 15,025, superando o alemão Mathias Farig (prata) e o ídolo Diego Hypolito (bronze)

Com a conquista na Copa do Mundo em São Paulo, Ângelo espera poder alavancar de vez sua carreira. O ginasta, que treina desde pequeno no Esporte Clube Pinheiros (SP), recebe salário do clube e está tentando renovar sua bolsa-atleta com o governo federal até a Olimpíada, mas ainda não tem patrocínio particular.

"Eu espero que abra várias portas, porque eu estou sem patrocínio pra mim, queria conseguir isso pra minha carreira. Tem que abrir bastante portas para a ginástica, para as competições que vão vir."

Ele diz que precisava de um resultado expressivo para chamar a atenção dos patrocinadores e espera que o ouro na Copa do Mundo sirva para isso. Marcos Couto, técnico do campeão olímpico Arthur Zanetti e membro da comissão técnica da seleção brasileira confia que Ângelo conseguirá mais apoio agora.

"Nosso país é assim, é meritocracia. Primeiro você tem que provar que você pode ser medalhista, para depois colher os frutos. Ele conseguiu a medalha agora, agora é que vão olhar para ele."

Início
A carreira de Ângelo Assumpção na ginástica começou mais cedo até do que ele poderia imaginar. Aos 2 anos, o garoto já deixava a mãe e a tia de cabelo em pé quando subia nos muros da casa onde eles moravam na zona leste de São Paulo.

"Antes de andar, ele engatinhava e já escalava o portão engatinhando. Aí quando tinha 2 anos de idade, ele subiu num muro alto ali da casa e disse que era o super-homem, que iria voar. Ele pulou dali e a gente teve que levá-lo para o hospital", conta à BBC Brasil a tia Márcia Dias Assumpção, que teve a chance de ver o sobrinho ganhar a primeira medalha de Copa do Mundo da carreira em casa.

Ângelo foi crescendo e não perdia a mania de 'buscar as alturas'. A tia Márcia perdeu as contas de quantas vezes viu o menino caindo no capô de seu carro após saltar do muro da casa. "Ele pulou várias vezes, afundou o capô de vários carros".

Mãe, tia e tio de Ângelo estiveram no Ibirapuera para torcer pelo jovem ginasta

E se Ângelo ganhou coragem e força para se tornar um ginasta profissional hoje, ele deve muito à mãe, Magali Dias Assumpção. "Ele subia em tudo desde pequeno, mas eu nunca o incentivei a ficar com medo. Quando ele subia, eu dizia 'desce, meu filho', mas nunca falava 'desce daí porque você pode se machucar'", relata a mãe.

Ao ver as 'habilidades' do filho, Magali o levou para um teste no Centro Olímpico quando viu o anúncio de que eles estavam abrindo equipes de ginástica. Ângelo passou e começou a treinar de verdade aos 6 anos de idade. Com 7, ele foi para o Pinheiros e lá está até hoje. Mas a rotina era puxada.

"Eu estudava de manhã, das 7h às 11h30, o treino era 12h, aí saía correndo da escola, comia e ia treinar. O treino ia até umas 18h e aí eu voltava pra casa, eram mais dois ônibus, duas horas para chegar, eu ia dormindo no colo da minha mãe", conta.

Quando chegava, era difícil encontrar energia para fazer as lições de casa e por isso a tia e a mãe ajudavam bastante nos estudos.

"A gente se virava. Acho que nós não encaramos como um trabalho, quando a gente é criança, a gente se diverte, acaba gostando. Era cansativo, no começo cansou bastante, mas depois se tornou rotina."

Depois de mais de dez anos dedicados à ginástica e de ter 'abdicado da infância', como diz a mãe, Ângelo conseguiu a recompensa em forma de medalha.

"É gratificante, porque são muitas etapas que a gente tem que passar pra chegar aqui. Foi muita luta, mas agora tenho que agradecer a todos e continuar treinando para chegar mais longe."

Promessa
A medalha de ouro no salto e a evolução de Ângelo nos treinamentos o colocam como uma das grandes promessas do Brasil para a ginástica nos Jogos Olímpicos do ano que vem. Quem aposta nele é o próprio ídolo de infância do ginasta, Diego Hypolito.

Ângelo teve Diego como ídolo, e hoje os dois competem juntos pela seleção brasileira de ginástica

"Eu sempre achei o Ângelo um excelente atleta de solo e salto, ele tem nível técnico para ser medalhista mundial e medalhista olímpico, coisa que poucos têm. Se for trabalhado, ele pode chegar lá", disse o bicampeão mundial do solo, Diego Hypolito.

Depois da competição em São Paulo, Ângelo segue para o Rio de Janeiro na segunda, onde treina junto com a seleção brasileira no novo centro de treinamento da ginástica. Entre uma avaliação e outra com a seleção, ele foca sua preparação no Pan-Americano de julho, no Canadá, e também no Mundial, que é o grande objetivo da ginástica brasileira no ano porque é classificatório para a Olimpíada.